Mineradores sul-africanos ficam ricos, mas deixam cianeto como herança
2005-10-27
Minas de ouro gigantes podem ter sido há muito tempo abandonadas em colinas exauridas de Johannesburgo, conhecida como cidade do ouro. Mas com 17 anos de atividades no mercado internacional, os mineradores, mesmo os de pequena escala, estão retornando a Johannesburgo num cenário que mais parece o da corrida do ouro do século 19.
Os ambientalistas, contudo, ainda se queixam da devastação deixada por esses megaoperadores. Graças ao ouro, Johannesburgo tem rodovias de primeira classe, arranha-céus e espaçosos subúrbios. Mas descendo pela rodovia M1 na direção de um dos aterros de reciclagem da Crown Mines, observa-se um mundo diferente. Uma areia branca sai de tanques gigantes, empilha-se pela avenida extensa, isto a apenas 15 quilômetros ao norte de Johannesburgo.–A exploração de outro sempre foi um esquema para ficar rico rapidamente–, diz um trabalhador. –Quando os preços são bons, as pessoas se mexem e retiram o quanto querem. Nós vamos restaurar a terra e, depois, encontra-se um novo subúrbio como este–, assinala.
Porém, isto não serve de consolo para ambientalistas como Catherine Pienaar, que teme que as excessivas quantidades de cianeto utilizadas na reciclagem de aterros causados pela exploração de ouro tenham efeitos prejudiciais à saúde de comunidades vizinhas, especialmente daquelas pessoas que fazem a extração sem tecnologia, em condições precárias.
O governo tentou fazer parar o trabalho dessas pessoas, mas Pienaar afirma que ele deveria forçar as empresas a terem maior precaução para assegurar que as soluções para o cianeto sejam prevenidas a fim de que a substância não escape para o meio ambiente e prejudique a saúde dos mais pobres. O cianeto também é danoso para a vida selvagem: muitas espécies, especialmente de pássaros, são suscetíveis ao envenenamento.
A África do Sul é o maior produtos mundial de ouro, com uma média de 400 mil quilos por ano. Em 2003, a produção caiu em cerca de 6,5%, passando para 373 mil quilos, marcando o seu mais baixo nível desde 1956. Contudo, o ouro ainda representa 39% das riquezas exportadas em dólares pelo país. Como os custos e produção vêm subindo porque o ouro agora é encontrado a mais de quatro quilômetros de profundidade, muitos exploradores preferem reciclar antigos aterros, o que causa um dano ambiental ainda maior. (The Independent, 26/10)