Mesmo em risco, agricultores não deixam de usar agrotóxicos
2005-10-26
A utilização de agrotóxicos na agricultura sempre gera
polêmicas e tem sido apontada como um dos principais meios de intoxicações,
que representam atualmente um grave problema de saúde pública. Os
trabalhadores rurais são os principais envolvidos em acidentes e, mesmo
assim, são poucos os que utilizam equipamentos de proteção individual e vêem
a utilização de agrotóxicos como risco à saúde. Essa é a conclusão de um
estudo realizado por pesquisadores da Universidade Castelo Branco e da
Fundação Oswaldo Cruz com agricultores de Cachoeiras de Macacu (RJ).
Dados oficiais recentes colocam o Brasil como o 7º consumidor mais freqüente
no mundo, tendo sido consumidos no país, em 2001, 328.413 toneladas destes
produtos. De acordo com artigo publicado na edição de abril/junho de 2005 da
Revista Ciência e Saúde Coletiva, muitas vezes, as intoxicações por
defensivos não são graves a ponto de exigir internação; e são freqüentes os
casos em que os trabalhadores rurais, embora com sintomas de intoxicação,
continuam sua jornada de trabalho sem procurar atendimento médico. Mesmo
para casos de intoxicações graves, a falta de atendimento médico é causa
comum de sub-registro.
No estudo, os pesquisadores constataram que 92,5% dos agricultores
utilizavam agrotóxicos. Em relação à quantidade aplicada, eles observaram
que 37,5% dos entrevistados calculavam a quantidade utilizada do produto de
acordo com o rótulo.
— Foi difícil analisar a quantidade dos produtos usados
porque os agricultores não têm um critério de dosagem em relação ao tipo de
cultura e ao tamanho da plantação. Eles utilizam os agrotóxicos de maneira
inadequada e, na maioria das vezes, não respeitando o período de carência.
Empregam produtos não específicos para uma determinada praga ou doença, e
ainda fazem ‘coquetéis de agrotóxicos’, misturando produtos de diferentes
composições químicas-, afirmam no artigo.
A equipe também verificou que 35% aplicavam o produto toda semana e 25,5%
aplicavam duas vezes ao mês. No que se refere à autoproteção, na aplicação
de agrotóxicos, 82,5% dos agricultores não utilizavam EPI (Equipamento de
proteção Individual) completo e 17,5% o utilizavam. Desses agricultores, 35%
não usavam nenhum tipo de proteção.
— O motivo alegado pela
maioria dos trabalhadores para não usar os EPI é que a região é muito
quente, tornando o equipamento desconfortável-, revela a equipe. Além disso, 60% dos
agricultores não recebem nenhum tipo de treinamento para a utilização dos
agrotóxicos.
Nesse sentido, os cientistas observaram que 22,5% dos agricultores relataram
ter sofrido intoxicação por agrotóxicos. Os sintomas mais comuns mencionados
foram tonteira, dor de cabeça, dor no corpo e visão turva. Mesmo assim,
apesar de reconhecer o risco da utilização dos agrotóxicos, a maioria não se
dispõe a mudar.
— Acreditamos que devido à natureza multifacetada do problema
do uso abusivo de agrotóxicos no País, dos riscos para o meio ambiente e
para a saúde humana por eles produzidos, apenas uma ação multissetorial de
médio a longo prazo seria capaz de reduzir os impactos negativos destas
substâncias-, afirmam no artigo.
(Agência Notisa, 24/10/2005)