Projeto de pólo siderúrgico ameaça São Luís
2005-10-25
Militantes contrários à instalação do pólo siderúrgico em São Luís, dia 11, fizeram
manifestação nas escadas da biblioteca pública Benedito Leite, na Praça Deodoro.
Integrantes do Movimento Reage, formado por várias entidades sindicais e populares,
participaram do protesto na capital do Maranhão. Lideranças das comunidades da área
pretendida pelo pólo e o comitê de estudantes, também contrário ao projeto,
participaram da manifestação.
O empreendimento, liderado pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em parceria com a
corporação chinesa Baosteel, visa instalar em São Luís, próximo ao porto do Itaqui,
um complexo de três usinas e duas gusarias, em uma área de 2.471 hectares, onde moram
cerca de 14 mil pessoas, agrupadas em 11 comunidades rurais.
Cada usina teria capacidade de produzir 7,5 milhões de toneladas de aço por ano,
totalizando 22,5 milhões de toneladas. Siderúrgicas deste porte, em ilhas, são
rejeitadas por estudos técnicos de várias instituições científicas que alertam para
os graves riscos ambientais e sociais, como a poluição do ar, do solo e do subsolo,
além dos impactos causados pelo deslocamento de comunidades tradicionais.
O projeto é defendido pelos governos federal e estadual, e acolhido pela Prefeitura
de São Luís, com respaldo da quase totalidade dos meios de comunicação, que vêem nele
oportunidades de geração de empregos diretos e indiretos, bem como um estímulo ao
desenvolvimento do Estado.
Para o empreendimento ser viabilizado, é necessário modificar a Lei de Uso
do Solo Urbano, transformando a zona residencial rural em zona industrial. Nas 11
audiências públicas realizadas para debater o tema, o pólo foi rejeitado.
A própria validade das audiências foi questionada porque os mapas da área
apresentados pela prefeitura omitiram várias nascentes dágua, para atenuar o
impacto na legislação ambiental.
Atualmente, o projeto está em fase de tramitação em quatro comissões temáticas na
Câmara de Vereadores: Constituição e Justiça, Planejamento Urbano, Meio Ambiente e
Saúde. O estudante de Jornalismo Jorge Luis Prado Correa, integrante do Movimento
Reage, afirma que a Lei de Zoneamento não pode ser aprovada antes de ser discutido o
Plano Diretor. – De acordo com o que está previsto no Estatuto das Cidades, o debate
sobre o Plano Diretor deve ter ampla divulgação e participação popular com amplos
segmentos da sociedade-, reitera Jorge Prado.
A participação das comunidades nas audiências públicas e a repercussão das
ações do Movimento Reage levaram os defensores do projeto a propor uma área menor
para o pólo. Para o advogado Guilherme Zagallo, um dos coordenadores do Reage, a
diminuição da área não resolve o problema, mas é um passo importante.
– A Câmara já está tendendo a reduzir a área de 2.471 hectares para 1.000 hectares.
Eu credito isso a uma vitória, à participação expressiva da população nas 11
audiências públicas, com cerca de 3 mil pessoas nos eventos. A maioria dos que foram
às audiências é contra a implantação do pólo em São Luís. Mas mesmo a redução da área
que está sendo anunciada pela Câmara de Vereadores - de três usinas para uma só -
ainda é muito preocupante-, reitera.
Segundo Zagallo, após o trâmite na Câmara Municipal, o projeto ainda vai
passar por mais quatro processos de licenciamento ambiental: do subdistrito
siderúrgico, das indústrias, do Porto do Itaqui e da captação de água. As estimativas
do pólo prevêem o gasto de 2.400 litros de água por segundo, correspondente a todo o
consumo da população de São Luís, retirada do rio Itapecuru, já em adiantado estado
de assoreamento e poluição.
Os licenciamentos devem seguir o ritual de novas audiências públicas. – A luta contra
a implantação dessas usinas em São Luís está apenas começando. A ilha não comporta
mesmo uma usina siderúrgica, pelos impactos sociais e ambientais que esta instalação
irá causar-, enfatiza o advogado Guilherme Zagallo. (Brasil de Fato, 21/10)