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2005-10-25
Por Naira Hofmeister
Nanotecnologia: o prefixo vem do grego e significa anão. Trata-se de uma tecnologia na qual são manipuladas partículas atômicas do tamanho de um bilionésimo de metro, uma escala inimaginável para maioria dos cidadãos.

A despeito de seu tamanho, o poder que concentra essa tecnologia é enorme, como demonstra o aporte financeiro investido nos últimos anos. O Canadá destinou em 2004, 10 bilhões de dólares na pesquisa básica de nanotecnologia. Para se ter uma noção do que isso representa, basta citar que nos anos 40, exatamente a mesma quantidade de dinheiro foi gasta na pesquisa e produção da bomba atômica.

A Fundação Nacional de Ciências dos Estados Unidos prevê que em 2012, o mercado mundial movimente cerca de 1 trilhão de dólares em negócios de nanotecnologia. Apenas dois anos depois, o número deve subir para 2,3 trilhões. Essa cifra é 15% do que, atualmente, é movido pela indústria global, ou 10 vezes mais do que o capital de giro das tecnologias da informação, a biotecnologia ou da tecnologia transgênica.

— Em pouco tempo, a nanotecnologia se tornará o maior setor da economia mundial, mesmo porque, atinge à todos os setores econômicos-, prevê Pat Mooney, diretor do ETC Group - Erosion, Technology and Concentration -, do Canadá, ong que monitora o desenvolvimento científico e suas aplicações sociais. No Brasil, o investimento ainda é tímido, 104 milhões de reais nos últimos três anos.

Compuseram a mesa debatedora na Assembléia Legislativa Sílvia Guterres, Wilson Tadeu Lopes da Silva, os deputados Ervino Bohn Gass e Frei Sérgio Göergen e Pat Mooney.

Os números comprovam algo que teóricos e cientistas já vêm sublinhando a tempo: a nanotecnologia não é algo do futuro, ao contrário, está mais presente no cotidiano do que muita gente imagina.

Segundo Mooney, cerca de 7 mil e 200 produtos utilizam a nanociência na sua composição, entre medicamentos, produtos alimentícios, aditivos químicos, inseticidas e cosméticos, além das indústrias naval e aérea. O problema reside na regulamentação das técnicas de manipulação atômica e, principalmente, nos estudos de efeitos que podem ter nos seres humanos e no meio ambiente: —Não sabemos nada sobre suas implicações ambientais e de segurança, e existem razões para ficarmos céticos quando nos dizem que as novas tecnologias vão resolver os problemas da sociedade, como a fome, a má distribuição de renda e a injustiça social-, alerta.

A nanotecnologia modifica a matéria, redesenhando suas propriedades químicas: ao invés de termos apenas uma, lidamos com cerca de cinco ou dez diferentes tabelas periódicas, a partir da nanotecnologia, compara Pat Mooney. Os impactos econômicos que acarreta, podem ser ilustrados pela situação narrada por Mooney durante sua conferência na Assembléia Legislativa, nesta segunda-feira (24/10) pela manhã.

Nos últimos anos, o Chile investiu 12 bilhões de dólares em equipamentos para a mineração no país, que tem como principal sustentáculo do PIB, a extração de cobre. São cerca de 74 mil famílias que dependem diretamente da atividade econômica. Pois bem, segundo as previsões de Mooney, em apenas cinco anos, a utilização de fios de cobre na indústria da informação pode ser totalmente substituída por carbono nanomodificado. Ou seja, se pode prever uma indeterminação da matéria-prima.

Para além dos efeitos econômicos, o debate social deve se dar também no nível dos impactos, pouco estudados até o momento. O descaso com os impactos ambientais e nos seres humanos foi denunciado por Pat Mooney. Segundo ele, as indústrias não testam o comportamento dos elementos químicos no âmbito nanotecnológico. Se um material é aprovado para ser utilizado em escala macro, ninguém cobra que seja reavaliado seu uso na escala nano. Porém, assim como nessa escala modificam-se características como cor, condutividade elétrica, força e magnetismo, também suas implicações nos seres humanos e na natureza serão transformadas.

A pesquisadora da Faculdade de Farmácia da UFRGS, Sílvia Guterres, lida com a nanotecnologia há quinze anos e defende sua utilização, principalmente pelos avanços médicos que proporcionou nos últimos vinte anos, tempo em que é utilizada na área. — Há benefícios incontestáveis na utilização da nanotecnologia, mas há também riscos associados que devem ser pensados por aspectos regulatórios consistentes-, afirma. Porém, a discussão tem se dado em âmbitos muito segmentados, principalmente na classe científica, o que, segundo a pesquisadora, provoca temor na população. — Essa iniciativa da Assembléia não só é oportuna, como tardia-, disse Sílvia.

Ela argumenta que as nanopartículas estão presentes na natureza, não sendo fruto apenas da manipulação industrial, o que deveria acalmar os tecnófobos. Além do mais, Sílvia disse que a Anvisa já deu os primeiros passos na discussão da segurança e eficácia de medicamentos que utilizam a nanotecnologia. Ela exemplificou benefícios como a utilização de campos magnéticos para levarem um medicamento ao seu lugar de ação, dentro do corpo humano.

Aliado a essa visão sem preconceito, o representante da Embrapa, Wilson Tadeu Lopes da Silva também é entusiasta da tecnologia. Estudos da entidade apontam que a construção de músculos artificiais, por exemplo, não está muito distante da realidade atual. Narizes e línguas artificiais que identificam odores e sabores com uma capacidade quase humana já estão em fase de comercialização no Brasil.

Há controvérsias, como tudo o que está no âmbito de desenvolvimento tecnológico. Primeiro, a velocidade assustadora que impede uma apropriação da sociedade e sua familiarização com as novas tecnologias. Seguido da falta de estudos de impacto, tanto no meio ambiente, como na própria raça humana. E, por último a questão das patentes, obviamente concentradas nas mãos de pouquíssimas grandes empresas, ou seja, os efeitos sociais da comercialização de nanotecnologia. Segundo Mooney, 80% das patentes na área, são concentradas por empresas de grande porte, em países como Estados Unidos, Japão, China e os europeus. Há também, um temor em relação à sua utilização militar. Há quatro anos, a Marinha e a Força Aérea norte-americana detinham praticamente toda a pesquisa na área.

Segundo Mooney, entre o alerta que um cientista faz em relação a um provável problema advindo das modificações tecnológicas e a sua apropriação por um governo, se passam cerca de trinta anos.

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