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2005-10-25
Muitos dos computadores e acessórios usados, enviados dos Estados Unidos para serem consertados e reutilizados em países menos desenvolvidos, não estão indo para escolas nem instituições, mas acabam no lixo desses países, causando um enorme problema ambiental nos locais mais pobres do planeta. A denúncia foi feita ontem (24/10) por meio de um relatório reproduzido no website da ONG Basel Action Network.

O relatório, chamado O Lixo Digital: Exportando Reúso e Abuso para a África afirma que equipamento não utilizável está sendo doado e mesmo vendido a nações em desenvolvimento para reciclagem a partir dos Estados Unidos como forma de compensar as despesas de ter de reciclá-los no próprio território americano. O documento, escrito pela Basel Action Network, com sede em Seattle, foca-se na Nigéria, no oeste africano, afirmando que a situação é similar em muitos dos países do mundo em desenvolvimento.

–Muito freqüentemente, justificativas de construir pontes sobre o mundo digital dividido estão entre os pretextos utilizados para ofuscar e ignorar o fato de que essas pontes apenas duplicam-se como dutos de resíduos tóxicos–, afirma o relatório. Como resultado, a Nigéria e outros países em desenvolvimento estão arcando com cargas desproporcionais de resíduos tóxicos de produtos de tecnologia, conforme Jim Puckett, coordenator do grupo elaborador do estudo.

Segundo o Conselho Nacional de Segurança, mais de 63 milhões de computadores nos Estados Unidos vão ficar obsoletos em 2005. Um monitor médio de computador pode conter algo como oito gramas de chumbo, juntamente com plásticos carregados com retardantes de chama e cádmio, substâncias que são prejudiciais ao meio ambiente e aos seres humanos.

Em 2002, a Basel Action Network foi co-autora de um relatório que informava que de 50% a 80% do lixo eletrônico recolhido para reciclagem nos Estados Unidos estava sendo desmontado e reciclado de modo irregular, em condições danosas à saúde, na China, na Índia, no Paquistão e em outros países em desenvolvimento. O novo relatório sustenta que os americanos podem estar sendo enganados por pensarem que seus velhos computadores estão tendo bom uso.

Pelo porto nigeriano de Lagos, segundo o novo relatório, um número estimado de 500 contêineres de equipamentos eletrônicos usados ingressam todo mês, levando, cada um, em torno de 800 computadores, de um total de aproximadamente 400 mil usados por mês. A maior parte do equipamento que chega em Lagos, de acordo com o documento, é inútil e mesmo irreparável e não vendável, do ponto de vista econômico. – Os nigerianos estão nos dizendo que 75% desses equipamentos não são consertáveis–, diz Puckett. Ele informou que a Nigéria, como a maioria dos países em desenvolvimento, poderia somente acomodar equipamentos usados em funcionamento.

O grupo ambientalista visitou Lagos, onde concluiu que, apesar das crescentes tecnologias industriais, o país carece de infra-estrutura para a reciclagem de materiais eletrônicos. Isto significa que o equipamento importado acaba indo para aterros, onde as toxinas podem poluir a água subterrânea, criando condições não saudáveis ao meio ambiente e aos habitantes.

Puckett informou que o grupo identificou 30 recicladores nos Estados Unidos que concordaram em não exportar lixo eletrônico para os países em desenvolvimento. –Estamos tentando fazer com que isto se transforme em uma prática comum, que o material deva ser testado e rotulado–, afirma. Ele ainda informa que seu grupo está tentando fazer com que de fato vigore a Convenção da Basiléia, um tratado das Nações Unidas que visa a limitar o comércio de resíduos perigosos. Os Estados Unidos são o único país do mundo desenvolvido que não ratificou o tratado.

Muito do equipamento que está sendo embarcado para a África e para outras áreas em desenvolvimento a partir de recicladores dos Estados Unidos, que em geral obtêm esse material de forma gratuita, de empresas, agências do governo e comunidade em geral, está sendo embarcado para longe, vendido e desmontado a custo muito baixo.

A Scrap Computers, uma recicladora de Phoenix, tem oito unidades nos Estados Unidos para armazenar material eletrônico que coleta antes de embarcá-lo para países estrangeiros. O presidente da empresa, Graham Wollaston, diz que abre praticamente uma nova unidade por mês. Segundo ele, que descreve sua empresa como uma gigante de operações diversificadas, há uma reutilização, virtualmente, para cada componente de velho dispositivo eletrônico: velhas tevês estão se transformando em pequenos tanques de pesca na Malásia, e velhos monitores podem ser reparados e transformados em novos. –Não existe essa coisa de lixo no Terceiro Mundo–, afirma Wollaston. –Se você colocar um computador velho na rua, ele será dividido em partes–, completa.

Para Wollaston, o esquema de reciclagem está funcionando muito bem, embora ele reconheça que alguns recicladores joguem no lixo velhos equipamentos em várias nações em desenvolvimento, principalmente na China. –Um dos problemas enfrentados pela indústria é a falta de certificação para onde estão indo os produtos–, afirma. Ele ainda diz que a sua companhia testa todos os equipamentos destinados a países em desenvolvimento.

A Agência de Proteção Ambiental reconhece que práticas inadequadas ocorreram na indústria, mas não pensa que o problema deve ser encaminhado no sentido de cessarem todas as exportações. –A EPA tem trabalhado com países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) nos últimos sete anos no desenvolvimento de um programa que poderia proporcionar maior segurança de que as exportações de materiais recicláveis são ambientalmente corretas–, diz Tom Dunne, da unidade de Resposta Emergencial a Resíduos Sólidos da EPA. (Fonte: The New York Times, 25/10)

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