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2005-10-24
Apesar do avanço das pesquisas na área da produção de alimentos transgênicos, há duas décadas, a população ainda não está informada sobre os possíveis riscos que estes alimentos podem conter, os governos não têm verbas para investir em pesquisa e informação e as grandes empresas transnacionais dominam o setor, levando muitos a entender que tudo não passa de venda de produtos modificados e regulados pelo interesse econômico. Esta a síntese da abordagem apresentada no painel Impactos Ambientais e Sociais da Transgenia em Alimentos , que encerrou o primeiro dia do seminário sobre transgenia alimentar, no Teatro Dante Barone. O seminário integra a agenda da Semana da Alimentação e continuou na sexta-feira (21/10) durante todo o dia. A promoção é do Governo do Estado, Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa e Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do RS (Consea).

O mestre em Biologia Vegetal da Universidade de São Paulo (USP), Flávio Gandara, e a professora e pesquisadora em transgenia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Maria Helena Zanetini, foram os palestrantes. O painel foi coordenado por Valtemir Goldmeier, do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema/RS), que afirmou não ser mais possível ideologizar o debate. – Esta é uma questão técnica-, afirmou, ao defender a formulação de uma rede de integração regional entre municípios para viabilizar um planejamento estratégico de áreas passíveis de utilização para a pesquisa e o plantio de alimentos transgênicos.

Na abertura, o secretário de Agricultura do RS, Odacir Klein, destacou a posição do Governo do Estado de buscar, a partir da legalização do plantio de transgênicos – que pautou o debate até agora – trabalhar para criar legislação de proteção aos interesses da população. – O governador sabe que, agora, precisamos dar contorno definitivo à legislação que está sendo apresentada”, afirmou.

Flávio Gandara apresentou dados sobre a complexidade da biodiversidade brasileira, causas e efeitos da transgenia e estratégias que devem envolver uma política de biossegurança. Segundo ele, é preciso avaliar cuidadosamente a extrema complexidade da vida nos trópicos, onde é possível encontrar até 60 mil espécies de animais e organismos vivos em cada hectare de floresta e, na maioria das vezes, torna-se impossível dimensionar os danos provocados por novas espécies e genes mutantes. Citou o caso do algodão, cujo plantio se amplia em várias regiões brasileiras, e genes transgênicos acabam se espalhando pela fauna e flora sem a possibilidade de qualquer controle. – As legislações ainda são frágeis, os riscos difíceis de serem dimensionados e as responsabilidades ainda não estão definidas-.

A pesquisadora Maria Helena Zanetini informou que existem mais de 130 espécies transgênicas no mundo e que a produção de soja geneticamente modificada ocupa, hoje, 56% da produção global do produto. Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar em área plantada com alimentos transgênicos: 47 milhões de hectares. Em seguida vem a Argentina (16 milhões), o Canadá (5,4 milhões) e o Brasil (5 milhões).

Defensora da pesquisa e produção de alimentos geneticamente modificados, a professora da Ufrgs salientou que a indústria farmacêutica utiliza transgênicos há 25 anos e 300 milhões de consumidores norte-americanos se alimentam destes produtos sem que se tenha qualquer registro de algum problema. Ela apresentou, também, resumo de uma carta assinada por 3.300 cientistas internacionais assegurando que, em 15 anos de pesquisas em plantas genéticamente modificadas e em produtos derivados até agora desenvolvidos, não foram encontrados riscos para a saúde humana ou para o meio ambiente.

Segundo ela, muitas bebidas, cereais, leite, queijo, carne e saladas são produzidas a partir do uso de enzimas geneticamente modificadas. – O coalho que é utilizado na fabricação do queijo era retirado, antigamente, do estômago do bezerro; hoje, 80% da produção mundial de queijo utiliza-se de uma enzima altamente modificada-. (Litoral Norte, 21/10)

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