Pelotas não sabe onde jogar 150 toneladas de lixo
2005-10-21
As 150 toneladas de lixo produzidas diariamente na cidade têm futuro indefinido.
Aproxima-se do fim a validade da licença provisória concedida pela Fundação Estadual
de Proteção Ambiental (Fepam) para a utilização do atual aterro controlado, e a
prefeitura enfrenta dificuldades na definição do novo destino dos resíduos.
Em 31 de dezembro, após mais de duas décadas de uso provisório, a área que hoje
recebe o lixo gerado pelos pelotenses vai fechar. Como a permissão não será renovada,
o Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep) corre contra o tempo para buscar
uma solução.
A autarquia municipal precisa encontrar um local definitivo, mas como o processo de
implantação do aterro pode levar até três anos, também é necessário que o Sanep
consiga uma área de transição para o recebimento dos resíduos até a inauguração do
novo.
Três alternativas provisórias são cogitadas: depositar os dejetos em Minas do Leão, o
que aumentaria o custo com o destino do lixo em pelo menos R$ 400 mil mensais, ou se
associar a Rio Grande na utilização do futuro aterro do município litorâneo, mas
depende da vontade política da Câmara de Vereadores rio-grandina. A terceira hipótese,
mais provável, é procurar garantir na Justiça, por meio de uma liminar, a prorrogação
do uso do aterro atual.
O que diz Álvaro Meneguzzi, engenheiro químico da Divisão de Saneamento Ambiental
(Disa) da Fundação Estadual de Proteção Ambiental
O município tem um termo de compromisso ambiental, um instrumento provisório de
licenciamento, para a utilização da área atual. Mas a própria prefeitura, há cerca de
um ano e meio, estipulou dezembro deste ano como a data final de depósito de lixo no
aterro, que já está totalmente saturado. A área é inviável, fica na zona urbana, e o
tratamento dos resíduos é ineficaz.
Existe também a garimpagem sem controle feita pelos catadores, pois o cercamento é
precário. Não tem como o uso do aterro ser prorrogado, mas vai depender do juiz que
receber o pedido do Sanep decidir, caso a prefeitura entre na Justiça para estender o
prazo.
Sobre o local estudado pelo IPH, até agora não recebemos nenhum encaminhamento do
processo. Sendo assim, a denúncia remetida pelos moradores fala de algo que
desconhecemos. Mas quando o processo de estudo for aberto na Fepam, a manifestação
dos produtores rurais vai ser muito importante na questão do impacto ambiental.
Produtores temem prejuízos
Contratado pelo Sanep para elaborar um estudo, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas
(IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul indica uma área de 78 hectares,
localizada no Passo do Pilão, distrito de Monte Bonito. A escolha para a instalação
do aterro deixa indignados os moradores do local.
- Por aqui passam duas nascentes do Arroio Pilão, e convivem na área gatos-do-mato,
marrecos, ratões-do-banhado, maçaricos, graxains, urubus e até mesmo um jacaré-,
argumenta o produtor rural Luís Alberto Soares Quevedo, 44 anos.
Tanto para consumo humano como para os animais, a propriedade de Quevedo é abastecida
pela água cristalina das nascentes.
- O que será da natureza daqui com o depósito do lixo?-, pergunta a bióloga Rosane,
40 anos, mulher de Quevedo, que encaminhou à Fepam documento defendendo a
impossibilidade de um aterro no local. (ZH, 21/10)