O lixo que virou produto de exportação
2005-10-21
A pescadora Isaura Neres Nunes Moraes, 56 anos, sempre desprezou o cará, preferindo
peixes grandes e mais valorizados no mercado. Mas foi com ajuda da pequena espécie
chata e arredondada que ela e outras 21 moradoras da Ilha da Pintada, em Porto
Alegre, se tornaram empreendedoras, com trabalhos exportados até para a Europa.
O segredo não está na carne, mas na escama do peixe, utilizada como matéria-prima
para a confecção de artesanato. Com capacitação do Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com instituições públicas e privadas,
Isaura e as demais integrantes do grupo Art´Escama, vinculado à cooperativa dos
Pescadores da Colônia Z-5, estão redescobrindo talentos e alternativas de renda a
partir do que antes era jogado no lixo.
O cará é uma das espécies preferidas pela delicadeza das escamas, ideal para ser
transformada em brincos, pulseiras e colares. Mas a cada dia as mulheres descobrem
novas aplicações da matéria-prima, que depois de tingida com chás e ervas naturais,
acompanha bordados em biquínis, echarpes e até vestidos de noiva. Apresentados em
feiras e exposições, os produtos começam a conquistar mercados. E a mudar a vida das
artesãs.
O interesse pelas escamas de peixe surgiu depois de verem uma exposição açoriana com
a aplicação. Depois de pesquisar, as mulheres conseguiram resgatar a técnica, em 2002.
Nos últimos dois anos, a capacitação sistemática oferecida pelo Sebrae ajudou a
organizar o negócio, transformando uma boa iniciativa em um empreendimento rentável e
próspero. (ZH, 21/10)