Procure o prefeito, diz Ciro à flagelada da seca na Amazônia
2005-10-21
O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, sobrevoou ontem 5 dos 21 municípios do Amazonas em situação mais crítica por causa da seca e prometeu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deixará faltar ajuda às famílias isoladas. Após verificar a situação de Manacapuru, Caapiranga, Anamã, Anori e Manaquiri, acompanhado do governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), Ciro comentou que, como ministro, não ficou impressionado, viu, porque estava ali para solucionar o problema. Mas ressaltou:
— Como pessoa, fico triste e preocupado com o desastre ambiental. Não deixa de nos preocupar que a natureza esteja pregando essas peças no mundo inteiro.
Falar com o ministro, porém, foi tarefa difícil para os moradores das áreas visitadas ontem. Na comunidade Bom Jesus, em Manacapuru, a 84 quilômetros de Manaus, onde os dois helicópteros do Exército pousaram com as autoridades, a dona de casa Antonia Benacon da Silva, de 31 anos, com um de seus oito filhos, tentou em vão pedir ajuda ao ministro.
— Fale com o prefeito - despistou.
— Meu marido não tem condição de pagar os R$ 10 do rateio da comunidade para comprar diesel para puxar a água do poço que o prefeito mandou construir - contou Antonia. O prefeito Washington Régis (PP) afirmou que perfurou os poços, mas não tem verba para comprar motores de bombeamento, por isso as comunidades estão rateando o diesel.
Régis se aproximou do ministro para agradecer pelas 58 cestas básicas entregues à comunidade, mas não conseguiu.
— Não precisa agradecer, não precisa fazer discurso - disse Ciro, em voz alta.
— Eu sei que é obrigação, mas queria agradecer – disse Régis.
Na comunidade Dominguinhos - tema de reportagem do Estado no domingo -, em Caapiranga, a 145 quilômetros de Manaus em linha reta, no segundo e último pouso, muitos membros da comunidade demonstraram dúvidas sobre o uso do hipoclorito de sódio.
— Estou querendo economizar o frasquinho e não uso muito - disse a dona de casa Raimunda de Souza, de 41 anos. Oficiais do Exército orientavam que uma gota é o suficiente para um litro de água.
Segundo a dona de casa Perpétuo Pereira, de 24 anos, as 23 cestas básicas distribuídas no local no sábado são suficientes para as poucas famílias sobreviverem até o fim da seca.
Na volta a Manaus, após cinco horas, os helicópteros passaram pelo Lago dos Reis, em Careiro da Várzea, a 29 quilômetros de Manaus. A 30 metros do solo era possível sentir o cheiro de peixe podre. Um jacaré morto chamou a atenção dos fotógrafos e cinegrafistas. No pouso, Ciro ironizou:
— Viram o jacaré? Devem ter gostado, jornalista só gosta de desgraça.
Prioridade
A preocupação dos coordenadores do SOS Interior - programa estadual de socorro às vítimas - nas próximas semanas será com os municípios do Baixo Amazonas, que devem ser atingidos pela seca. Enquanto isso, se espera uma melhora nos municípios do Alto e Médio Amazonas, hoje em estado de calamidade.
— Pelo menos nesses municípios há logística mais fácil e aeroportos - disse Braga.
Segundo o coordenador do SOS Interior, José Melo, até agora dez municípios já receberam mantimentos e medicamentos. Ele informou que hoje seguem para o nordeste do Estado 20 toneladas de alimentos e 12 de medicamentos. (O Estado de S. Paulo, 20/10)