Fábrica recupera imagem e ganha prêmio na indústria
2005-10-21
Doze anos depois de ser fechada pelo Ibama devido à poluição causada por sua planta
industrial no município de Cambará do Sul, a Cambará é hoje exemplo de preservação
ambiental no setor de celulose e papel. Mais antiga fábrica do segmento no Estado, a
Cambará recebeu esta semana, em São Paulo, o Prêmio Destaque do Setor em
Responsabilidade Social, da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP).
É a terceira vez em quatro anos que a Cambará vence a premiação, que reconhece as
ações comunitárias e de desenvolvimento sustentável das companhias do setor.
Fundada em 1942, a Cambará é hoje a única indústria brasileira de celulose fluff,
utilizada na fabricação de fraldas descartáveis e absorventes higiênicos. O produto é
obtido a partir da fibra de pinus taeda, que tem alto poder de absorção e retenção de
líquidos. A companhia também fabrica papel do tipo tissue, destinado às indústrias de
papéis sanitários, como toalha, papel higiênico e guardanapos. Com uma produção
diária de 100 toneladas, ela atende 15% da demanda industrial desta matéria-prima.
Mesmo com potencial de crescimento no mercado interno, a organização não pretende
expandir sua produção nos próximos anos. – A ampliação de uma indústria de celulose
requer investimentos superiores às nossas possibilidades-, diz Rudi Christmann,
diretor-superintendente da Cambará.
Desde 1992, a Cambará conduz um programa de preservação ambiental, criado depois que
a empresa foi interditada em virtude da poluição provocada pelos resíduos
não-tratados de seus processos industriais, que eram depositados nos rios Santana,
Camisas e das Antas. Segundo Christmann, mesmo que tenha interrompido a atividade da
indústria por 40 dias, a iniciativa do Instituto beneficiou a empresa. Ele conta que,
no início dos anos 90, a companhia fez uma opção estratégica pela produção de
celulose fluff. Para isso, foram encomendados novos equipamentos, que também
reduziriam a poluição gerada pelos antigos. – Com o Plano Collor, ficamos sem capital
e as máquinas ficaram retidas no porto de Porto Alegre. A interdição da fábrica gerou
uma grande pressão da comunidade da Cambará do Sul, que culminou com a liberação do
material ainda em 1992-, lembra Christmann.
A partir da aquisição de equipamentos novos, a empresa cumpriu um cronograma de
adaptação de sua linha de produção à legislação ambiental. – Hoje nenhum resíduo de
nossos processos químicos é jogado no rio-, orgulha-se Christmann. A modernização da
planta industrial foi acompanhada pelo desenvolvimento de novas técnicas de produção.
Com apoio do Senai, da empresa Vida Desenvolvimento Ecológico e da Pucrs, foi adotado
um novo método de branqueamento da celulose, que não utiliza cloro. Também foram
instalados sistemas de tratamento dos efluentes líquidos e de monitoramento da
qualidade dos rios Santana, Camisas e das Antes, antigamente atingidos pelos detritos
da Cambará.
Criada nos anos 40 para produzir celulose para papel de escritório, nos anos 80 a
Cambará redirecionou sua produção para a celulose solúvel, utilizada pela indústria
química. De olho no crescimento do mercado de fraldas descartáveis no início dos anos
90, a indústria apostou no fornecimento de matéria-prima para este segmento. Entre
2001 e 2004, a Cambará registrou crescimento anual médio de 25%. (JC, 21/10)