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2005-10-21
O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), disse ontem que a seca irá se agravar para a região do baixo Amazonas. O problema será agravado pela vazante do rio. Quatro cidades poderão sentir diretamente as conseqüências da estiagem. São 87.500 moradores nesses locais.

— A nossa principal preocupação vai ser com o baixo Amazonas. Nós daqui da região sabemos: a seca vai se deslocar para o baixo Amazonas. Vamos ter agravamento em Maués, Boa Vista do Ramos, Nhamumdá e Silves. A partir deste final de semana, vamos montar uma operação [lá] - afirmou Braga.

O governador também se mostrou apreensivo com o abastecimento de água na cidade de Manaus, em decorrência da vazante do Negro. Ontem, o rio estava com apenas 15,06 metros. A média, na cheia, é de 23 metros.

— Pedimos à população de Manaus que não desperdice água para que possamos tê-la nos reservatórios do município. Não corremos risco de racionamento de água no momento, mas não custa nada nos prevenir. Faço o apelo para que não desperdicem água porque o Negro continuará uma vazão nos próximos 20 dias.

Na estiagem ocorrida em 1997, por conseqüência do fenômeno climático El Niño, o rio Negro desceu de nível até 14,34 metros em outubro. A Eletronorte racionou energia em Manaus. Sem fornecimento de energia para fazer as operações, a empresa estatal Cosama (Companhia de Saneamento do Amazonas), responsável à época pela distribuição de água no município, informou que a seca afetou o abastecimento de água em Manaus.

A empresa Águas do Amazonas, que atende atualmente 1,3 milhão de habitantes, descartou ontem racionamento, informando que a captação mínima de água no rio é de 12 metros na estação de tratamento da Ponta do Ismael, responsável por 80% do abastecimento. A capital tem 1,592 milhão de moradores.

O governador do Amazonas também pediu aos agricultores que não façam queimadas. Como a floresta está muito seca, existe a possibilidade de incêndios.

Ontem, nos sobrevôos em Manacapuru e Manaquiri, com o ministro Ciro Gomes, foram localizadas mais de dez queimadas. A Secretaria Nacional de Defesa Civil classificou a estiagem atípica de alta intensidade -nível 4 (muito grande porte e com muitos prejuízos à comunidade).

Quando o decreto de calamidade pública foi anunciado, no dia 11 deste mês, a Defesa Civil do Estado tinha classificado a ocorrência em um desastre de causa natural de nível 3.

— É o mais alto grau de desastre que pode ocorrer em algum sítio. Vimos na região Sul uma estiagem muito forte; em Pernambuco, enchentes; mas essa seca aqui [na região amazônica] foge dos padrões a que estávamos acostumados a encontrar - disse José Luis DAvila Fernandes, diretor da Defesa Civil nacional. Ele disse que a secretaria liberou mais R$ 1,2 milhão para o Exército enviar as cestas básicas para as comunidades afetadas.

Falta de alimentos O ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) anunciou ontem a liberação de 100 mil cestas básicas para atender os atingidos pela seca no Amazonas. Ele visitou duas comunidades em Caapiranga e Manacapuru.

Ao ouvir relatos dos moradores de que as águas dos lagos e dos rios estão contaminadas e que o nível de navegação só chegará à normalidade em dezembro, ele decidiu pela liberação de mais alimentos para que as famílias suportem a falta da pesca e o isolamento na região.

— O que há é um problema humano muito grave porque a malha de rios, igarapés e paranás é que faz a circulação das pessoas e do abastecimento de tudo. A idéia [de liberar mais alimentos] é suprir todas as conseqüências de uma estiagem atípica como essa.

A primeira comunidade visitada pelo ministro foi a de Dominguinho, a 18 km de Caapiranga (222 km de Manaus). O deslocamento foi realizado por um helicóptero do Exército.

No local, no qual vivem cerca de 30 famílias, Ciro visitou a casa da agente de saúde Marcilânia Ramos de Souza, 24, e viu que as cestas básicas já tinham chegado.

Ciro perguntou a Luciana Carvalho, 7, se ela ia à escola.

— A escola está fechada por causa da seca, ministro - respondeu a garota. (Folha de S.Paulo, 20/10)

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