Pesquisadores analisam elo entre camada de ozônio e aquecimento global
2005-10-21
Especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que fazem medições em Punta Arenas, no Chile, estudam a relação e as possíveis conseqüências da interação de dois fenômenos ambientais que ameaçam o planeta: a redução da camada de ozônio e o aquecimento global.
Embora diversos na origem — a camada de ozônio é destruída pela emissão de gases CFCs, enquanto o aquecimento é provocado, em grande parte, pelo acúmulo de CO2 — os fenômenos podem vir a interagir, causando novos problemas.
— Devido ao quadro atual das mudanças climáticas e à complexidade da dinâmica atmosférica, existe a necessidade de sabermos as interações entre estes dois fenômenos e suas conseqüências futuras - afirmou Neusa Paes Leme, coordenadora dos trabalhos de medição da camada de ozônio em Punta Arenas, no Chile.
A equipe do Inpe concluiu que a camada de ozônio sobre a região apresentou uma redução de aproximadamente 50%, a pior já registrada desde 1995 na região.
— Em matéria de redução total sobre a Antártica, está semelhante a 2003 que foi a segunda maior depois de 2000. Mas este ano tivemos algumas particularidades: foi medida sobre o Pólo Sul, em 17 de setembro, a destruição de 100% da camada - contou Neusa. — Estas variações são esperadas, pois dependem de processos dinâmicos da atmosfera, como variações da temperatura, da meteorologia. Enfim, é exatamente isto que agora pretendemos estudar melhor.
Uma das mais sérias conseqüências do chamado buraco da camada de ozônio é o aumento da radiação solar do tipo UV-B, nociva para os seres humanos. Os pesquisadores em Punta Arenas registraram um índice 5 de radiação num dia parcialmente nublado, o que representa uma elevação de 120% em relação ao índice médio observado em condições normais.
A expectativa em relação à recuperação da camada de ozônio entretanto é bem mais otimista do que a do aquecimento global, uma vez que o uso dos CFCs foi banido.
— Precisamos lembrar que os CFCs que produzem o buraco na camada de ozônio ainda estarão presentes por mais de 80 anos - apontou Neusa. — Acredita-se que estamos no máximo da destruição, que iremos oscilar alguns anos em torno deste valor mínimo, mas que, aos poucos a tendência seria de recuperação. Talvez em 50 anos a camada esteja recuperada, se nenhum fato novo acontecer.
Fórmula contra desastres
A seca na Amazônia é um alerta de que o Brasil não está imune a desastres naturais e que, como qualquer país, precisa de sistemas de alerta precoce. É o desenvolvimento de um sistema desses o tema do I Workshop sobre Desastres Naturais, que acontece hoje e amanhã no Inpe. Segundo o coordenador do evento, o cientista Carlos Nobre, o objetivo é discutir com especialistas de várias instituições o desenvolvimento de um programa de computador capaz de alertar com antecedência sobre o risco de um desastre natural.
A análise será feita por município e combinará a previsão do tempo com dados sobre o município, como características geológicas e hidrológicas. Os pesquisadores selecionaram três temas para começar. O primeiro é o risco de deslizamentos em Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Serra do Mar. O segundo é o colapso de safras de subsistência no semi-árido nordestino. O terceiro visa a melhorar o cálculo dos incêndios na Amazônia. (O Globo, 20/10)