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2005-10-20
Antes de experimentar um crescimento acelerado na produção, que teve seu auge no ano passado, o setor de adubos enfrentou um período de catequese, segundo o diretor-secretário da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), Eduardo Daher.

— Foi preciso convencer os agricultores da utilidade do fertilizante na lavoura, didaticamente.

Após esse período, com a evolução da agropecuária, o setor viu-se obrigado a importar matéria-prima e, até hoje, o mercado não pára de crescer. Para o produtor e presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Rui Carlos Prado, apesar da incorporação de micronutrientes na formulação dos produtos, por outro lado, houve aumento de preços e concentração do mercado, que prejudicam o agricultor.

— O incremento tecnológico foi evidente, mas no futuro, espero que a importação de matéria-prima seja desburocratizada.

Em 2004, cerca de 2,2 milhões de toneladas de nitrogênio foram consumidos (60% importados); 3,5 milhões de toneladas de fósforo (45% importados); e 3,9 milhões de toneladas de potássio (90% importados).

Para o diretor da Anda a tecnologia inaugurou uma nova fase no setor. Primeiro, houve aumento da área plantada e da produtividade e, conseqüentemente, da produção de adubo. Depois, a produtividade e a produção de fertilizantes continuaram a subir, sem que houvesse aumento da área plantada. A produção cresceu de forma tão brutal que o problema hoje é distribuir esse volume.

— Não há como fazer as entregas, pois não há estradas, não há infra-estrutura.

A Anda prevê um crescimento médio de 4% nos próximos anos; a média registrada desde 1990, de 7,6%, não será superada. Em 2005, houve retração de 21% no mercado.

— A tendência é a tecnificação das culturas e para o futuro, prosseguiremos com pesquisas de novas tecnologias que facilitem a vida de todos - diz Daher.

Defensivos
A tecnologia também fará parte do futuro dos defensivos químicos. A pesquisa no setor tem como alvos segurança e meio ambiente. Segundo o presidente-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Cristiano Simon, a evolução dos produtos é evidente - antes eram quilos por hectare; hoje são gramas por hectare, mas a previsão é que os produtos fiquem mais seguros e menos tóxicos.

— A diminuição da toxicidade é atribuída aos ingredientes ativos, que sofreram mudanças significativas - diz. Simon acredita que o futuro será da produção integrada e que o agrotóxico acompanhará essa tendência.

O setor ainda deve ficar atento às exigências do mercado importador, que prioriza qualidade e segurança.

— Trabalhamos para obedecer aos padrões dos ministérios da Saúde, da Agricultura e do Meio Ambiente, cada vez mais rígidos. A busca por qualidade será uma constante, é algo que não tem fim - prevê Simon. O gerente de segurança de produtos da Basf, Roberto Araújo, confirma.

— O setor deve se preocupar com as boas práticas agrícolas e com a produção econômica de alimentos. É a tendência geral.

Calcário
A evolução agropecuária se deve, ainda, aos avanços das pesquisas sobre a técnica da calagem em solos tropicais.

— A acidez do solo interfere na absorção de nutrientes pela planta, e, nessas condições, podem surgir sérias restrições ao crescimento vegetal pelo aumento da presença, no solo, de elementos fitotóxicos, como o alumínio - explicam os pesquisadores José Ronaldo de Macedo e Daniel Vidal Perez, da Embrapa Solos.

Estima-se que a demanda anual pelo uso de calcário seja de 75 milhões de toneladas, mas apenas 20 milhões de toneladas são aplicados. Portanto, a cada ano, 55 milhões de toneladas de calcário deixam de ser aplicados, gerando menor eficiência do adubo, menor produtividade, menos renda, perda da produtividade do solo e maior pressão sobre os recursos naturais.

Como cenário futuro, os pesquisadores acreditam que a tecnologia deva associar aumento de produtividade, máximo rendimento econômico e preservação dos recursos naturais.

— O País já tem excelentes resultados de produtividade, mas ainda há o que se pesquisar sobre o uso da calagem no plantio direto e na produção orgânica, apostas certas para a produção futura.

Com a restrição a insumos de alta solubilidade, como serão mantidos os níveis de produtividade alcançados com adubos minerais? Quais interações podem ocorrer no solo com a aplicação de adubo orgânico?, questionam os pesquisadores.

— Acreditamos que o uso adequado da calagem tenha uma ação sinérgica com todas essas técnicas.

Sem resíduos
A busca pela molécula ideal é um dos objetivos do setor de defensivos. Apesar dos avanços alcançados nos últimos 15 anos, ainda falta descobrir essa molécula, que seja aplicada, controle a praga ou a doença e depois se degrade, suma do ambiente sem deixar qualquer resíduo.

— Ainda não se chegou a essa molécula, mas as pesquisas continuam - diz o gerente de segurança de produtos da Basf, Roberto Araújo. O diretor de pesquisa, desenvolvimento e marketing da Bayer, Gerhard Bohn, concorda.

— Os produtos estão mais modernos e sofisticados. Queremos que as doses aplicadas diminuam ainda mais e que não reste mais resíduos no ambiente - afirma.

— A questão da fitotoxicidade será essencial no futuro - prevê Cristiano Simon, da Andef. Hoje, desde o começo dos anos 90, nas pesquisas, predomina no setor a biologia molecular, que procura desenvolver produtos com baixa toxicidade e com alta seletividade. Araújo, no entanto, aponta a biotecnologia como grande tendência e a vê como poderosa aliada para o futuro.

— É inevitável e temos que agradecer por isso. Segundo ele, a biotecnologia é mais um componente tecnológico que deve ser trabalhado: — É um benefício a mais, que deve ser aproveitado. (O Estado de S. Paulo, 19/10)

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