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2005-10-19
O governo do Amazonas havia entregado até ontem 17 mil cestas básicas a famílias atingidas pela seca dos rios. O total de cestas chegará a 100 mil, já que o decreto de calamidade pública, oficializado na semana passada, englobou os 62 municípios do Estado.

Receberam alimentos e medicamentos as comunidades em situação mais crítica dos municípios de Anori, Anamã, Caapiranga, Manaquiri, Iranduba, Careiro da Várzea e Careiro Castanho.

Ontem, um avião Hércules C 130, da FAB (Força Aérea Brasileira), decolou de Manaus para Tabatinga, na fronteira do Peru e da Colômbia, com 17 toneladas de alimentos para serem doados inclusive a comunidades indígenas.

A reportagem da Folha acompanhou a entrega das cestas de mantimento nas comunidades de Dominguinho, Cachoeira e Taboca, nas quais vivem 60 famílias, em Caapiranga, localizada a 222 km a oeste de Manaus.

Como estão isoladas porque secou o lago Grande de Manacapuru, que deságua no rio Solimões, o transporte dos alimentos e medicamentos foi realizado em um helicóptero do 4º Batalhão de Aviação do Exército.

Águas subindo
Ontem, o Serviço Geológico do Brasil confirmou que as águas do Solimões e do Madeira continuam subindo. A notícia, que chegou pelo rádio na comunidade de Dominguinho, não alegrou a aposentada Antônia Barbosa Fontes, 83.

Ela disse que trabalhou nos seringais e conhece muito bem a descida e a subida das águas. Antônia afirmou que nunca tinha visto o lago Grande de Manacapuru tão seco.

— Mas água nova aqui só chega em dezembro - disse a aposentada. Até lá, ela não receberá sua aposentadoria. Vai deixar a tarefa para um dos filhos. Ela disse que, para receber, em setembro, teve que viajar de rabeta (canoa com motor de popa) por três dias pelo rio Solimões para chegar a Manacapuru (69 km de Manaus).

A distância até a cidade também impediu Francisco Agnes Macedo, 22, morador de Cachoeira, de levar seu bebê de oito meses ao hospital. Ele disse que a criança morreu em setembro de malária.

Na comunidade de Taboca, a reportagem encontrou outras crianças com malária. Francisca Marta de Araújo Alves, 24, que está grávida, disse que, dos três filhos, dois estão com malária.

— Estamos sem remédio.

Protocolo de Kyoto
O secretário do Governo, José Melo, afirmou que o ecossistema na Amazônia se mostra muito frágil frente a grande estiagem. Para ele, é necessária uma discussão sobre o Protocolo de Kyoto.

— Cuidar da Amazônia não é responsabilidade só do Brasil, é preciso que os países do Protocolo de Kyoto modifiquem a cláusula, do seqüestro do carbono, de que não pode vir dinheiro do fundo para florestas virgens.

O documento estipula que os países industrializados signatários deverão reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Países em desenvolvimento não têm compromissos de redução ou de limitação de suas emissões por terem prioridade no atendimento às necessidades sociais e de desenvolvimento econômico.

— A Amazônia é importante para o equilíbrio do mundo, e é preciso que os amazonenses sejam compensados, já que preservaram 98% da cobertura florestal. Ou o amazonense vai ter que pegar uma motosserra e desmatar tudo para ser compensado?

A seca também atingiu o vizinho Pará. Dez cidades do oeste do Estado entraram na sexta-feira em estado de alerta em razão da redução do nível dos rios. Em um deles, Oriximiná (1.045 km de Belém), foi decretada situação de emergência. As cidades em alerta (Santarém, Monte Alegre, Itaituba, Juruti, Terra Santa, Óbidos, Alenquer, Curuá e Faro) serão monitoradas pela Defesa Civil. (Folha de S.Paulo, 18/10)

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