Reflorestamento é alternativa para a agricultura familiar na Amazônia
2005-10-19
O Banco da Amazônia está analisando financiamentos para 50 projetos de reflorestamento de agricultores familiares em cinco municípios na região de Marabá, no sul do Pará, através do programa Pronaf-Floresta, com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), em uma iniciativa considerada inovadora, pois pretende incorporar os miniprodutores rurais no manejo sustentável dos recursos e produtos florestais na região amazônica. Segundo o analista de crédito Benito Calzavara, o banco, com esses créditos, espera reduzir a pressão exercida contra a floresta pelas queimadas para a agricultura e da destruição de árvores nativas para a produção de carvão destinada à siderurgia.
Calzavara, um dos expositores da Sexta Técnica do Banco da Amazônia, que discutiu na última sexta-feira, 14, em Belém, o tema Negócios Sustentáveis para a Amazônia, disse que cada um dos 50 pequenos projetos de reflorestamento em análise ocupa área de cerca de 2,4 hectares e terá financiamento de R$ 5,8 mil por hectare para a implantação do plantio de eucalipto e de R$ 6,2 mil para o cultivo de teca, duas espécies de alto valor econômico. As condições do financiamento são as mesmas do Pronaf Grupo B e os beneficiários já são clientes das linhas de crédito destinada à agricultura familiar pelo Banco da Amazônia, explicou o coordenador de Pequenos Negócios Rurais e Urbanos da Gerência de Crédito de Fomento Afonso Viana Neto, outro expositor do seminário que reuniu técnicos do banco e de outras instituições parceiras.
Os projetos começam a produzir renda a partir do segundo ano de implantação, com o aproveitamento da madeira oriunda do desbaste das áreas para a produção de carvão destinado às siderúrgicas. Dessa forma, os produtores poderão pagar o crédito concedido pelo banco e seguir com a atividade de reflorestamento para comercialização futura da madeira, além de poder consorciar na mesma área o plantio de espécies frutíferas e industriais, como o café e o cacau, de modo a garantir a renda familiar enquanto as árvores atingem o ponto de corte.
Projetos geram mais empregos
Outro expositor da Sexta Técnica do Banco da Amazônia foi o engenheiro florestal Evaristo de Moura Terezo, que abordou aspectos técnicos da atividade do reflorestamento, apresentou exemplos bem-sucedidos de consórcios de cultura florestais e defendeu o investimento público em capacitação humana, ciência e tecnologia para o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis.
O reflorestamento, disse Evaristo Terezo, gera empregos tanto no cultivo quanto na indústria madeireira, na base de um emprego para cada 10 hectares implantados, um emprego para cada 20 hectares em manutenção e um emprego na fábrica para cada dois empregos na floresta. O reflorestamento, ressaltou, é a atividade com maior capacidade de geração de ocupação no interior da Amazônia, além de propiciar rendimento muito superior à de atividades tradicionais como a pecuária e o cultivo de espécies agrícolas. O cultivo de teca, exemplificou Terezo, exige investimento de R$ 4,5 mil por hectare, mas rende R$ 29 mil por hectare, com um retorno de 26,72%, enquanto o retorno da pecuária tradicional é de 1,83%.
Porém, a pecuária também pode ser desenvolvida em bases sustentáveis, chamadas de agrobionegócio pelo consultor e empresário Júlio César Rezende, que apresentou, durante o seminário, a experiência bem sucedida de atividade pecuária desenvolvida dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) da Ilha do Bananal/Cantão, no município de Marianópolis, em Tocantins, com o mínimo de impacto sobre o meio ambiente e o uso de tecnologia inovadora.
No mesmo tom, o presidente do Banco da Amazônia, Mâncio Lima Cordeiro, fez na abertura da Sexta Técnica a defesa de um novo paradigma para as atividades econômicas na região, inspirado no conceito dos ecossistemas de negócios, que são atividades que poderão utilizar os recursos naturais como capital a ser aproveitado para a geração de renda e melhoria da qualidade de vida da população, sem que para isso seja necessário destruir esse capital. O novo paradigma preconizado pelo Banco da Amazônia, disse Mâncio Cordeiro, é completamente oposto aos modelos até agora adotados na região, que redundaram na destruição do capital natural e pioraram as condições de vida da população. (Diário do Pará, 18/10)