Greenpeace diz que há relação entre seca no Amazonas e desmatamento
2005-10-19
A seca forte e prolongada que atinge o Amazonas está ligada ao desmatamento e às
queimadas, afirma ocoordenador da Campanha de Clima da organização não-governamental
Greenpeace, Carlos Rittl. – Cinqüenta por cento da chuva que é formada na região
amazônica depende da floresta. Em contato com ela, a água das chuvas evapora antes
de atingir o solo. Além disso, as árvores também transpiram. Quando você desmata,
prejudica a formação das nuvens-, diz.
Segundo os meteorologistas do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), dois pontos
de aquecimento no oceano Atlântico seriam os grandes responsáveis pela estiagem – ao
provocar chuvas sobre o oceano, eles empurrariam as massas de ar frio sobre a
Amazônia, e esse movimento inibiria a formação de nuvens sobre a região. – Esse é o
fator global, que está ligado ao efeito estufa. Mas há o fator local, que são as
queimadas e o desmatamento. A própria fumaça das queimadas altera a composição das
nuvens-, argumenta Rittl.
Ele destaca que 75% das emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa no Brasil
vêm das queimadas e do desmatamento. – É nossa contribuição para o aquecimento
global. As temperaturas mais altas aumentam o desgelo dos rios dos Andes, que
alimentam a Bacia Amazônica. Mas provocam também o aquecimento do oceano Atlântico,
que inibe as chuvas. O fluxo de águas proveniente do desgelo não supera a falta de
chuvas. Além disso, no caso dos igarapés e lagos, as chuvas são a principal fonte de
abastecimento-.
É na beira desses igarapés (pequenos rios afluentes) e lagos que vivem as 32 mil
famílias que estão isoladas, segundo levantamento da Defesa Civil Estadual. Uma
equipe do Greenpeace sobrevoou os principais municípios castigados pela seca e
percorreu outros de carro. – Há rios e lagos onde o nível das águas está 80% abaixo
do normal. A gente passou de carro pelo fundo de alguns lagos, que viraram simples
riachos. Na beira deles, havia muitos peixes mortos. Isso contamina a água que resta
e compromete o abastecimento da população-. (Litoral Norte, 17/10)