Celulose Kraft produzida a partir das madeiras de Bracatinga (Mimosa scabrella) e Eucalipto (Eucalyptus saligna) misturadas em diferentes proporções
2005-10-19
Resumo: Este trabalho tem por objetivo principal avaliar o uso da madeira de bracatinga (Mimosa scabrella Benth), pura e misturada em diferentes proporções com madeira de eucalipto(Eucalyptus saligna Smith), para a obtenção de celulose para papel. Tem como objetivos secundários, avaliar as características dendrométricas das árvores, qualificar e quantificar os principais elementos químicos da madeira (extrativos em diclorometano, extrativos em álcool tolueno, lignina e cinzas) e análise anatômicas das fibras e dos vasos. Foram realizados 20 cozimentos kraft, sendo cinco tratamentos, envolvendo misturas em peso seco de cavacos de madeira entre bracatinga e eucalipto (100% bracatinga, 5% bracatinga, 10% bracatinga, 20%bracatinga e 100% eucalipto) com quatro repetições cada.
As condições de cozimento foram iguais para os diversos tratamentos, alterando-se somente o álcali ativo da amostra de bracatinga pura, visando manter o número kappa de 16 ± 1. A alteração foi de 23% de álcali ativo na bracatinga e 20% nos demais tratamentos(álcali ativo expresso como NaOH). A sulfidez manteve-se constante em 20%. A forma de cozimento foi a seguinte: (relação licor/madeira=4:1; temperatura máxima=170 ºC; tempo até a temperatura máxima=90 min.; tempo a temperatura máxima=60 min.). A polpa marrom passou pelas seguintes análises: rendimento bruto, número kappa, S5, viscosidade intrínseca e alvura. Após os cozimentos, as polpas passaram por uma deslignificação com O2 e posteriormente um branqueamento ECF, com uma seqüência D1 Eo D2 SO2, para conseguir máxima alvura das polpas com menor ataque as fibras. As celuloses branqueadas foram refinadas em moinho PFI com o objetivo de atingir níveis de 30º SR, e concomitantemente com as amostras sem refinar foram feitos os testes físicos-
mecânicos e óticos. O teor de lignina e extrativos foram semelhantes nas duas madeiras, enquanto o eucalipto apresentou maior teor de cinzas e menor densidade básica. Anatomicamente, as fibras das duas espécies mostraram pouca diferença no comprimento, porém a bracatinga possuía fibras mais largas com maiores diâmetros de lúmen e paredes mais espessas.
A bracatinga apresentou maior rendimento em celulose nos cozimentos. A deslignificação com oxigênio apresentou bons resultados na alvura e no número kappa, com pouca agressão as fibras. No branqueamento, a alvura foi influenciada a partir do acréscimo de 20% de bracatinga. Igual comportamento ocorreu na reversão da alvura. Com relação ao desempenho das celuloses nos testes físico-mecânicos e óticos, o acréscimo da proporção de bracatinga tende a promover uma perda da resistência à tração, ao rasgo, ao estouro, à elongação e piora a opacidade. Com esses resultados, pode-se concluir que a celulose de bracatinga é mais compatível com a fabricação de polpas para papéis sanitários e higiênicos, e menos recomendada para papéis de impressão e escrita, frente às suas características anatômicas e de desempenho nos testes de refinação. Entretanto, o seu uso em misturas até 10% com madeira de eucalipto, não afeta significativamente a qualidade da celulose resultante.
Instituição: Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Autor: Araujo, R. H.