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2005-10-19
Por Roberto Villar Belmonte
As eco-moradias estão cada vez mais confortáveis, luxuosas e valorizadas na Inglaterra e nos Estados Unidos. Viver em habitações sustentáveis está deixando de ser, nos últimos cinco anos, sinônimo de privações e falta de conforto. Pessoas que vivem bem, e que não são ativistas ecológicas, também estão buscando uma vida em sintonia com o planeta. Este é o tema de uma surpreendente reportagem especial de 20 páginas publicada no final de semana dos dias 15 e 16 de outubro pelo jornal Financial Times de Londres.

Uma das razões para este novo fenômeno imobiliário investigado pelo jornal britânico é o aumento da consciência sobre os problemas ambientais, principalmente devido às mudanças climáticas. As residências são uma fonte importante de emissão de gases estufa nos países desenvolvidos em função da energia usada para aquecer e resfriar as casas e prédios, e também para alimentar uma quantidade crescente de aparelhos domésticos. O próprio concreto é considerado uma fonte de dióxido de carbono.

Além dos gases estufa, também existem problemas crescentes com a geração de lixo nas áreas urbanas das sociedades de alto consumo, com o gerenciamento da água doce disponível e ainda com os materiais usados nas construções. A jornalista Fiona Harvey observa, no texto de apresentação do caderno especial do FT, que as moradias ecológicas não são apenas mais uma moda entre os ricos do primeiro mundo, mas indicam a total falta de opção diante dos graves problemas ecológicos do planeta.

Entre as novas tecnologias de geração de energia doméstica citadas pelo Financial Times estão os mini-aerogeradores, quase do tamanho de um ventilador convencional. Como são bem menores do que as tradicionais turbinas aéreas dos parques eólicos, os novos equipamentos têm um impacto visual muito mais reduzido e um dano ambiental quase insignificante, pois praticamente não oferecem riscos aos pássaros, ao contrário dos equipamentos tradicionalmente utilizados.

Luxuosas moradias ecológicas foram descritas pelo Financial Times. Não apenas mansões, mas também edifícios residenciais. Como o The Solaire, na ilha de Manhattan. O prédio de 27 andares tem 293 apartamentos para alugar e gasta 35% menos energia e 50% menos água do que os demais prédios da região. Além de painéis solares para captar energia, a água do banho e da pia das cozinhas é reciclada e usada nos vasos sanitários. O emprendimento é da Albanese Organization (www.albaneseorg.com).

Gaia salve a rainha
Na Inglaterra, a Rainha Elizabeth II vem se esforçando para dar um bom exemplo ecológico aos seus súditos. O caderno especial sobre habitações ecológicas do jornal Financial Times, que circulou nos dias 15 e 16 de outubro, informa que no próximo verão europeu o Castelo de Windsor começará a receber energia de uma central hidroelétrica instalada no rio Tamisa, medida que deverá reduzir em 600 toneladas a emissão de dióxido de carbono anual.

Outro eco-empreendimento real, em funcionamento desde 2002 no Palácio de Buckingham, é um coletor de água usado para abastecer o sistema de refrigeração. O equipamento substitui seis resfriadores antigos. Depois de usada, a água vai para os jardins do palácio, onde os fertilizantes químicos estão sendo banidos. Dia 24 de outubro inicia a Semana para Poupar Energia no Reino Unido, onde o aumento da eficiência energética nas residências será um dos temas abordados.

No Japão, uma célula de combustível, com hidrogênio, está sendo usada desde abril para gerar energia de modo mais eficiente para a residência do Primeiro Ministro Junichiro Koizumi. O jornal inglês Financial Times questiona, no entanto, o fato do primeiro ministro viver sozinho em uma mansão enorme ao invés de morar em uma casa menor, e mais arejada, para dar um exemplo realmente ecológico à população japonesa que vive espremida em pequenas habitações.

Cidades ecológicas
A preocupação com a construção de casas e até cidades ecológicas, ou livres de carbono, como estão sendo chamadas, está chegando à China. O governo chinês planeja construir nos próximos anos sete eco-cidades. A primeira delas será em Dongtan, perto de Shangai. Em agosto, a empresa Arup (www.arup.com) foi contratada para fazer a cidade o mais próxima possível do conceito neutra em emissões de carbono para não contribuir com o aquecimento global. A primeira fase do projeto será apresentada em 2010.

Os chineses estão sendo assessorados pelo arquiteto norte-americano William McDonough (www.mcdonough.com), considerado um dos papas das novas construções sustentáveis. A empresa inglesa Zedfactory (www.zedfactory.com), outra referência mundial em prédios ecológicos, está construindo em Pequim um condomínio residencial com 60 casas. A cidade inglesa de Newcastle também quer se livrar das emissões de carbono através do aumento da eficiência energética.

Os planejadores do governo chinês irão assistir na China, ainda este ano, uma série de apresentações do arquiteto italiano Paolo Soleri que, desde os anos 70, está construindo uma cidade ecológica no deserto do Arizona, nos Estados Unidos, chamada Arcosanti (www.arcosanti.org). No dia 8 de outubro, foi inaugurada em Roma uma exposição retrospectiva do trabalho inovador de Soleri. A mostra permanece no Palácio Fontana di Trevi até o dia 8 de janeiro de 2006.

Na Alemanha, o jornal inglês Financial Times destaca os prédios ecológicos de Fraiburg, na região da Floresta Negra, que já viraram atração turística em função dos novos padrões ecológicos adotados. E na Suécia já há um bairro ecológico inteiro com mil residências, na cidade de Malmö, que também adota novos procedimentos sustentáveis na construção das casas, dos materiais ao sistema hidráulico, passando pelo planejamento urbano da comunidade sueca.

Alguns sites interessantes de fontes citadas pelo Financial Times
• Conselho de Prédios Ecológicos dos Estados Unidos (www.usgbc.org), coalizão nacional de construtores engajados em projetos sustentáveis.
• Carbon Trust (www.thecarbontrust.co.uk), empresa independente fundada pelo governo inglês para ajudar a reduzir o consumo energético do país.
• Sust (www.sust.org), portal de tecnologias sustentáveis de design e arquitetura criado pelo Centro Escocês de Arquitetura, Design e a Cidade.
• Imobiliária inglesa Green Moves lançou em fevereiro seu site na Internet (www.healthyhomesforsale.com) apenas com casas ecológicas.
• Jennifer Roberts (www.jenniferroberts.com), autora dos livros Good Green Homes e Redux: Designs That Reuse, Recycle, and Reveal.
• Ian McKay, diretor da BBM Sustainable Design (www.bbm-architects.co.uk), empresa de arquitetura inglesa especializada em soluções ecológicas.
• Andy von Bradsky, diretor da PRP Architets (www.prparchitects.co.uk), empresa inglesa de arquitetura que presta serviço de design sustentável.
• Houses of the Future (www.housesofthefuture.com.au), exposição realizada no Parque Olímpico de Sydney na Austrália de 19 de fevereiro a 30 de outubro de 2005.
• Decorador e ecodesigner Danny Seo (www.dannyseo.com), autor de diversos livros, entre eles Conscious Style Home, é consultor de celebridades norte-americanas.

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