Transposição: Seca atinge 54 cidades que estão fora do projeto
2005-10-18
Distantes do roteiro das obras de transposição do rio São Francisco, municípios do interior do Ceará e do Piauí mais uma vez vivem um período de seca, como todos os anos, e já recebem a ajuda de carros-pipa do governo federal, distribuídos pelo Exército.
Até ontem, estavam validadas pela Secretaria Nacional de Defesa Civil, órgão vinculado ao Ministério da Integração Nacional, a situação de emergência em 54 cidades do interior do Nordeste. Sendo 32 do Ceará e 20 do Piauí.
Entre as cidades que reconhecidamente estão sofrendo com a falta dágua no Ceará, 20 estão distantes do projeto de integração de bacias do São Francisco.
Mesmo com o término da obra, orçada em R$ 4,5 bilhões, a população desses municípios distantes deverá continuar a depender do abastecimento dágua por carros-pipa nas épocas de seca, caso não seja feita nenhuma outra obra.
Pelo projeto, as águas do rio São Francisco seguirão por um canal da cidade de Cabrobó (PE) até o sudeste do Ceará, de onde serão despejadas no rio Salgado e, em seguida, no rio Jaguaribe, até o açude do Castanhão, o maior do país, com capacidade para 6,7 bilhões de m3 de água (33 vezes maior que a represa de Guarapiranga, em São Paulo, por exemplo). Outros canais levarão as águas do São Francisco até municípios do interior de Pernambuco, da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
O Piauí, apesar do histórico de secas, está fora do projeto.
— O povo que precisa de água está longe, a uns 200 km. O projeto, como está, vai chover no molhado, vai levar água aonde já tem - disse João Abner Guimarães, professor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Defensor da obra, Cássio Borges, especialista em recursos hídricos que vive no Ceará, reconhece que a seca irá persistir nas localidades distantes do projeto.
— Mas é melhor fazer algo por uma parte do que não fazer nada. No futuro, com essa garantia hídrica, será possível criar mecanismos para fazer chegar água aos locais mais distantes também - disse.
Hildegardo Nunes, diretor de projetos para as regiões Norte e Nordeste do Ministério da Integração Nacional, disse que as áreas não-beneficiadas pelo São Francisco receberão outros projetos do governo, como o Conviver, projeto que teve R$ 20 milhões do ministério.
— A intenção é dinamizar o uso da água e diversificar a produção - disse. (Folha de S.Paulo, 15/10)