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2005-10-18
Quando se fala em seca na Amazônia, ou nos furacões no Sul dos Estados Unidos, a primeira coisa que vem à cabeça é o aquecimento global. A terra está de fato ficando mais quente, mas, segundo os especialistas, é impossível demonstrar um vínculo causal entre esse aquecimento e fenômenos particulares, como os furacões e a seca. O que os cientistas já sabem, no entanto, é que os dois fenômenos tiveram a mesma origem: o aquecimento da água no norte do Oceano Atlântico. Os primeiros sinais surgiram em maio de 2004, na costa da África. No fim do ano, a água quente chegou ao Golfo do México e à costa da Venezuela, onde a temperatura média, de 28 graus centígrados, subiu para 29. Ao longo deste ano, a temperatura do oceano tem ficado entre 0,5 e 5 graus acima da média. Por causa dessa anomalia, a chamada zona de convergência intertropical, ponto de encontro entre as massas de ar dos Hemisférios Norte e Sul, que provoca formação de nuvens e chuvas, deslocou-se mais para o norte.

— É o segundo ano em que isso ocorre, mas, na Amazônia, a resposta dos rios à chuva é lenta, porque a bacia é enorme e há pouco desnível - explica Pedro Dias, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos.

Efeito estufa
— Ainda é prematuro atribuir ao aquecimento global, mas é um sinal coerente com o que se espera do efeito estufa.

Ou seja, se não for uma conseqüência direta do aquecimento, funciona como uma amostra do que pode vir a acontecer na Amazônia, se ele não for contido.

— Ninguém pode dizer se o aquecimento do Atlântico é resultado direto do aquecimento global - diz Daniel Nepstad, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em Belém. — O que podemos dizer é que ele é consistente com as previsões, e pode estar relacionado tanto com a perda de New Orleans quanto com a seca calamitosa na maior floresta tropical do mundo. À medida que o mundo se aquece, surpresas desse tipo seguramente se tornarão comuns.

A seca deste ano ainda não terminou, mas já é comparável à de 1963, quando o Rio Negro chegou a seus níveis mais baixos em um século de medições (ver gráficos), e com a de 1998, no rastro do fenômeno El Niño, quando 40 mil quilômetros quadrados de florestas pegaram fogo.

Ao lado do aquecimento, o desmatamento também contribui para a seca. Onde há floresta, a maior parte da água da chuva é interceptada pela copa das árvores. A água evapora rapidamente e causa mais chuvas. Em áreas desmatadas, com o solo pobre em matéria orgânica, a água da chuva escorre para os rios, indo para longe.

Assim, as duas causas podem se encontrar em um ponto: ao seqüestrar gás carbono, a floresta contribui para conter o efeito estufa, e, com ele, o aquecimento global.

Floresta paga
Acontece que manter floresta de pé custa caro, observa Paulo Moutinho, coordenador do Ipam, em Brasília. Entre os especialistas e autoridades, tem-se intensificado a reivindicação para que os moradores da região recebam incentivo financeiro para não desmatar.

O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Virgílio Viana, observa que na Colômbia e na Costa Rica já existem fundos para remunerar os habitantes das florestas pelos serviços ambientais prestados. No caso da Colômbia, trata-se de um recurso internacional chamado Global Environmental Facility; na Costa Rica, a verba vem de uma taxa de 5% sobre o consumo de combustíveis. Os proprietários de terras recebem US$ 50 por hectare de floresta preservada ao ano.

O mecanismo de desenvolvimento limpo do Protocolo de Kyoto, que estipula a venda de créditos de carbono, fornece uma base para o cálculo do valor da floresta preservada. Segundo Moutinho, a área de floresta queimada por ano representa de US$ 5 bilhões a US$ 7 bilhões em carbono seqüestrado – quase 10% do Produto Interno Bruto da Amazônia.

De acordo com Viana, a cooperação internacional para a preservação da Amazônia atinge entre US$ 3 milhões e US$ 5 milhões por ano.

— Precisamos sair dessa escala para US$ 200 milhões a US$ 500 milhões - diz o secretário, que tem pós-doutorado em conservação ambiental pela Universidade da Flórida.

— Só aí poderemos agir de maneira enérgica no combate ao crime ambiental e no investimento na produção florestal sustentável, remunerando o produtor pelo serviço ambiental.

Seca na Amazônia dá início a novo ciclo, diz especialista
Com as agravantes do desmatamento e do aquecimento global, a seca na Amazônia ganha alguns contornos de novidade que se dissipam no longo curso da história da região. De acordo com o meteorologista Pedro Dias, a atual redução das chuvas se encaixa no padrão de ciclos observado na Amazônia no último século. É o que os técnicos chamam de variabilidade decadal do Oceano Pacífico, que impacta o Atlântico. Os regimes de chuvas ao Norte e ao Sul do Rio Amazonas se têm alternado, em ciclos de três décadas, ao longo de 120 anos. Nos anos 40, 50 e 60 choveu menos na Amazônia. Nas três décadas seguintes, as chuvas aumentaram. Agora, no início do século 21, a região pode estar começando um novo ciclo de 10% a 15% a menos de chuva, assim como aconteceu no início do século 20.

— Nos últimos 100 a 120 anos, os ciclos têm sido bastante regulares - diz.

Coincidentemente, as variações possivelmente causadas pelo efeito estufa também são da ordem de 10% a 15%.

— Há um consenso de que o aumento do efeito estufa já tem uma magnitude comparável à da variação natural - registra Pedro Dias. Assim, o que poderia acontecer, falando grosseiramente, é que a variação causada pelo efeito estufa venha se somar à variação natural, duplicando o impacto sobre o meio ambiente. O meteorologista salienta, em qualquer caso, que se trata de variações médias ao longo de três décadas, e não de ano a ano, quando o comportamento pode ser bem diferente.

Numa escala ainda maior de tempo, a atual seca se torna mais relativa. Entre 5 mil e 3 mil anos atrás, onde hoje existem florestas, havia grandes extensões de savana (vegetação rasteira e pequenas árvores ao estilo do cerrado), característica de regiões com longos períodos de seca. Também há registros de grandes variações nas chuvas, e de períodos em que os rios amazônicos baixaram, causando mudanças significativas na fauna e na flora, lembra Virgílio Viana, secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas.

— Esta é a maior seca com internet e cobertura em tempo real - ironiza Elpídio Gomes Filho, superintendente da Administração das Hidrovias da Amazônia Ocidental (Ahimoc). Adaptados às grandes variações de profundidade dos rios entre os períodos de chuva e de estiagem, os portos da Amazônia têm um sistema de braço flutuante, inventado pelos ingleses, chamado road way, que sobem e descem, acompanhando a superfície da água.

Essas plataformas flutuantes são calculadas para manterem uma declividade de 12%, subindo e descendo cerca de 14 metros a cada estação.

— Os rios sobem 14 metros durante 6 meses e descem 14 metros durante 6 meses, de forma previsível, milenar e regularmente - assegura Elpídio. (O Estado de S. Paulo, 16/10)

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