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2005-10-18
Com o agravamento da seca na Amazônia, já é possível encontrar ribeirinhos caminhando por quilômetros com latas dágua na cabeça, como no sertão do Nordeste. Os repórteres Demétrio Weber e Ailton de Freitas foram ao povoado de Dominguinhos, em Caapiranga (AM), e encontraram 139 moradores isolados, procurando um jeito de ir à cidade vizinha comprar combustível e alimentos.

O cenário é desolador. No estado do rio mais caudaloso do planeta, o Amazonas, os moradores fazem fila indiana carregando latas dágua na cabeça, como se estivessem no sertão nordestino. O povoado de Dominguinhos, em Caapiranga, a 170 quilômetros de Manaus, fica à beira do Lago Grande de Manacapuru, que normalmente tem mais de dez quilômetros de extensão e extremidades que em tempos normais juntam-se a rios e igarapés, formando um imenso lençol dágua. Com a seca, o grande lago deu lugar a vastas extensões de areia, pequenos riachos e açudes formados aqui e ali pela água restante.

Os 139 moradores estão isolados e buscam um jeito de ir à cidade vizinha comprar combustível e alimentos. Sem estradas, a ligação com o mundo se dá por barco, a exemplo do que ocorre na maioria dos municípios do Amazonas.

A agricultora Marinês Pinheiro da Silva, de 26 anos, vive numa casa de madeira de uma única peça com a mãe, o irmão e dois filhos. Por causa do isolamento, deixou de produzir farinha de mandioca — não tem como vender o produto. O jeito é pescar. Antes bastava caminhar dez metros e subir na canoa. Agora, caminha uma hora sobre a areia do lago e praticamente recolhe os peixes encurralados em bolsões dágua que ainda resistem à seca. A questão, indaga ela: até quando?

— Temos comida para hoje e amanhã. Depois tem que pescar de novo.

Fome ronda os povoados
Povoados como Dominguinhos, completamente isolado, já começam a enfrentar a falta de alimentos, remédios, combustível e água potável. Pior: mesmo que chuvas torrenciais venham a cair nas cabeceiras dos rios, serão necessárias pelo menos mais duas semanas até que o nível da água suba nos municípios mais atingidos pela mais forte seca dos últimos 50 anos. A meteorologia só prevê chuvas fortes a partir de novembro.

O governo do Amazonas decretou estado de calamidade em 61 de suas 62 cidades, deixando de fora apenas a capital, Manaus. Em sete delas, porém, a situação é mais grave, especialmente na zona rural, onde vivem cerca de 80 mil pessoas. É a população que mais sofre num cenário há muito não visto.

— A alimentação está escassa porque está ficando muito cara. Quem tem mantimentos cobra três vezes o valor. A população está no limite dos recursos estocados. Se a chuva não vier, a situação que já é crítica vai ficar desesperadora - diz o governador Eduardo Braga.

Num dos açudes que ainda restam em Dominguinhos está ancorado, ou melhor, ilhado, o barco do comerciante Antônio Ferreira da Silva, de 42 anos. Dono do único armazém do povoado, ele usa a embarcação para percorrer vilarejos e fazer negócios de todo tipo. O comércio é feito à base do escambo: Silva recebe bananas e mandioca em troca de sabão, óleo de cozinha, café e açúcar. É com o barco que ele vai ao município de Manacapuru, onde compra os produtos no armazém. Por causa da seca, sua última viagem foi em setembro. O estoque deve durar mais um mês.

— Quando acabar, não tem como trazer mais. O jeito vai ser fechar as portas e esperar a chuva - diz Silva.

Dominguinhos já está sem remédios e, na escola, as aulas foram suspensas em setembro, depois que os barcos do transporte escolar deixaram de navegar. (O Globo, 16/10)

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