Jornalistas ambientais reconhecem que Cubatão melhorou, mas querem muito mais
2005-10-18
Três grupos de profissionais de imprensa
especializados em meio
ambiente — que participavam do I Congresso Brasileiro
de Jornalismo
Ambiental, encerrado na última sexta-feira (14/10), em Santos —
estiveram
visitando Cubatão a convite da Prefeitura,
Petrobras/Refinaria Presidente Bernardes e Cosipa.
O grupo recepcionado pela administração pública foi
levado a conhecer
os mangues onde os guarás-vermelhos fazem seus ninhos,
às margens do
Rio Cascalho. Depois visitaram o escritório da Cetesb,
onde conheceram
o sistema de monitoramento on-line de processos
industriais da
Refinaria e da Cosipa, implantado este ano com
recursos da Petrobras.
No primeiro passeio ficaram encantados com o
manguezal, especialmente
com as aves e em particular com os guarás-vermelhos.
Na Cetesb,
elogiaram a iniciativa das indústrias em proporcionar
o acompanhamento
em tempo real da qualidade de suas emissões
atmosféricas, aprovando o
uso da tecnologia para garantir maior transparência
nas suas relações
com a comunidade.
Falta muito
Nenhum dos programas, no entanto, foi mais relevante
para esses
jornalistas (cerca de 30, nos três grupos, muitos
originários da
América Latina, Europa, África e América do Norte) do
que a visão que
eles tiveram da Cidade no trajeto entre um e outro
passeio. — Vi que
muita coisa melhorou em Cubatão desde a década de 80,
quando aqui
estive várias vezes, para fazer reportagens sobre a
cidade que, à
época, era um ícone mundial de degradação do ambiente
pela má ação das
indústrias-, admite o uruguaio Victor Bacchetta.
— A natureza está em recuperação e as empresas têm
investido bastante
em tecnologia de controle ambiental. Mas isto, apenas,
não é
suficiente. O conceito de desenvolvido sustentado, que
é dos anos 90,
apenas começou a ser implementado por aqui-, conclui
Victor,
correspondente internacional que viveu no Brasil no
período de 83 a 91.
— Falta muito que fazer. É preciso que as empresas se
comprometam de
fato com a solução dos problemas sociais,
envolvendo-se diretamente
com a solução desses problemas. Só assim as
comunidades que hoje estão
marginalizadas poderão se organizar, se informar e
decidir de forma
livre sobre o que é melhor para elas-, analisa Bacchetta. Para ele não
existe outro
caminho que não o da Responsabilidade Social e
Ambiental das empresas.
Responsabilidade
— O velho modelo econômico do lucro pelo lucro não
mais se sustenta.
Embora as indústrias potencialmente poluidoras
continuem se instalando
em países periféricos, porque em seus países de origem
enfrentam a
resistência esclarecida da opinião pública, isto não
quer dizer que as
populações dos países em desenvolvimento devam
permanecer passivas,
conformando-se com um processo industrial apenas um
pouco mais limpo,
sem que as empresas se envolvam com questões como
educação, saúde,
qualificação profissional e outras de interesse de
suas comunidades. A
tecnologia, apenas, não basta-, afirma Victor.
Ele esclarece que esse entendimento é compartilhado
por todos os
integrantes da Rede Brasileira de Jornalistas
Ambientais (constituída
de mais de 500 profissionais da área, de todos os
cantos do País) e
também por aqueles que fazem parte de uma rede
semelhante que atua na
América Latina e Caribe. Adalberto Wodianer Marcondes,
diretor da
revista digital Envolverde (www.envolverde.com.br) e
organizador do
evento realizado em Santos — e que na
sexta-feira participou
do grupo que visitou a Refinaria Presidente
Bernardes — é um dos
mediadores da Rede Brasileira.
Marcondes defende a prática da Responsabilidade
Social e
Ambiental acompanhada da divulgação desses
indicadores, de forma
transparente e regular, pelas empresas. Ele conta que
trouxe o I Congresso
Brasileiro de Jornalismo Ambiental para a Baixada
Santista — exatamente
por se tratar de uma região de imensos contrastes, que
de um lado
possui uma cidade como Santos, que apresenta um dos
melhores IDHs
(Índice de Desenvolvimento Humano) do País e, de
outro, tem áreas onde
proliferam favelas, analfabetismo e miséria.
Intercâmbio
O I Congresso reuniu mais de 1.000 profissionais de 22
estados
brasileiros, além de dezenas de jornalistas de quatro
continentes. A
meta da Rede é promover encontros estaduais ao longo
de 2006 e, em
2007, realizar o II Congresso Nacional, em local ainda
a ser definido,
com o objetivo de dar um passo adiante no processo de
construção do
desenvolvimento sustentado, com responsabilidade
social e ambiental.
A troca de experiências proporcionada por esses
eventos, para ele, é
um caminho bastante eficaz. Prova disso era a
presença, no grupo de
jornalistas que visitou os mangues e a Cetesb, de
Allison Ishy, um dos
palestrantes do I Congresso, que veio do Mato Grosso
do Sul conhecer os impactos ambientais e sociais
provocados pelo pólo
industrial de Cubatão.
— É que a partir de 2007 começam as obras de um pólo
siderúrgico na
região de Corumbá e, partir de 2009, será implantado
ali também um
pólo petroquímico. Queremos nos antecipar, para evitar
que no futuro
venhamos a ter os mesmos problemas hoje enfrentados
por Cubatão-,
explica. Já o moçambicano Frederico Dava, que visitou
a Refinaria,
interessou-se pela tecnologia utilizada pela
Petrobras, nas décadas de
60/70, para deixar de usar o chumbo tetraetrila
(altamente prejudicial
à saúde) na composição da gasolina automotiva,
melhoria ambiental que
até hoje não foi adotada em seu país. (Com informações do
Departamento de Imprensa da Prefeitura de Cubatão)