Agricultura tradicional e transgênica estão à beira de crise generalizada
2005-10-18
Por Francis França
Os altos custos da manutenção química das lavouras tradicionais aliados à eficácia cada vez menor das técnicas de combate a pragas levarão a agricultura da Revolução Verde e a agricultura transgênica a uma crise generalizada e terminal em poucos anos. A previsão é do Frei Sérgio Görgen, responsável pela palestra de abertura do 3º Congresso Brasileiro de Agroecologia, em Florianópolis, nesta segunda-feira (17/10). Para Frei Sérgio, deputado estadual do PT/RS que atua desde o início da década de 80 na assessoria de movimentos sociais do campo, além de ser um modelo petrodependente, as agriculturas tradicional e transgênica tendem a se tornar cada vez mais caras e sofrem um esgotamento tecnológico, mostrando-se incapazes de solucionar os problemas que elas mesmas criaram.
— A soja transgênica foi criada em laboratório para resistir a pragas naturais, só que essa resistência está ficando cada vez menor, e, em breve, será nula – sentencia.
Frade franciscano e ativista de grupos como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais no RS (MMTR) e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Frei Sérgio quebrou o protocolo na abertura do 3º Congresso Brasileiro de Agroecologia. Falou rapidamente sobre o tema para o qual foi convocado, A Sociedade Construindo Conhecimentos para a Vida, e aproveitou seu tempo para tratar das frentes de luta necessárias à implantação da agroecologia de forma estrutural. Ele acredita que os próximos 15 anos serão decisivos na batalha entre a agricultura química e a agroecologia.
Frei Sérgio defende que sejam implantados métodos de transição massiva do modelo tecnológico artificial, deflagrado na década de 50 pela Revolução Verde, para o modelo agroecológico. Para isso, segundo ele, precisa-se construir territórios inteiros de produção e manejo agroecológico. O deputado defende ainda que é necessário consolidar a agroecologia como instrumento de luta na mão do camponês.
— O produtor também conhece a agricultura de forma científica, mas a partir de métodos diferentes, de uma epistemologia diferente da ciência chamada tradicional – disse ele, acrescentando que se preocupa com quem financia as pesquisas no Brasil.
— A aplicação do conhecimento científico não é neutra. É feita em benefício de alguém, e o critério de escolha sobre quem beneficiar é sempre baseado na lógica de classes – destacou.
O deputado aposta no sucesso da agroecologia baseado no que ele chamou de tendências mundiais, que seriam a crise do petróleo, a crise do clima e a exigência dos consumidores por alimentos mais saudáveis.
— Se quisermos fazer ciência em favor da vida, precisamos reconhecer e respeitar a lógica da natureza – defende.
Para frei Sérgio, a expansão da agroecologia será responsável também pela melhoria da qualidade de vida dos produtores.
— Câncer no meio rural é uma epidemia. Antigamente era um espanto quando um agricultor morria de câncer, hoje, o espanto é quando ele morre de outra causa que não seja câncer, provocado pelo contato com fertilizantes, herbicidas, pesticidas e adubos químicos – disse.
Crítica à Embrapa
Depois de pedir desculpas e fazer muitas ressalvas à competência de vários setores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), frei Sérgio pediu permissão à organização do congresso para fazer uma crítica à instituição:
— Gostaria de não ver a Embrapa adaptando soja na Amazônia – disse, sendo imediatamente ovacionado pelas mais de 1.400 pessoas que lotaram o auditório da Universidade Federal de Santa Catarina, entre elas, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que gritavam palavras de ordem. Para frei Sérgio, o Brasil deve dar base a uma ofensiva geral para enraizar a agroecologia na teoria e na prática, tornando-a cotidiana na vida do produtor.
O 3º Congresso Brasileiro de Agroecologia, que ocorre simultaneamente com o 3º Seminário Catarinense de Agroecologia, vai até o dia 20 de outubro, no Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina. Além das palestras, também haverá oficinas, mesas-redondas, pôsteres, além de tendas para venda e exposição de produtos orgânicos. Para informações sobre o evento acesse a página oficial do congresso, no endereço www.agroecologia2005.ufsc.br.