Deputado do Rio preso no Tocantins por pesca ilegal
2005-10-17
Apaixonado por pesca, o deputado estadual do Rio José Nader Júnior (PTB) vai aumentar seu repertório de histórias de pescador. O petebista foi preso na madrugada de ontem, acusado de porte ilegal de armas e pesca ilegal. O parlamentar estava com cinco pistolas, algumas delas de uso exclusivo das Forças Armadas, e ainda está preso na Casa de Custódia de Tocantins, em Palmas.
Nader foi detido em flagrante em seu chalé, no município de Pium, que fica a duzentos quilômetros de Palmas. A polícia recebeu denúncia anônima de moradores da região, que reclamaram do número exagerado de tiros e da prática de pesca ilegal. Na propriedade conhecida como Grupo de Pesca de Riozinho, a Polícia Militar encontrou as armas e munição. O parlamentar estava acompanhado do general Roberto Pacífico e do policial militar Renato Amora que atua como seu segurança pessoal.
Entre o armamento apreendido, foram encontrados revólver de calibre 38, com numeração de série raspada, pistola de calibre 45 e 22 de cano longo e uma pistola Ponto 40. A polícia também encontrou cerca de 400 projéteis, a maioria intactos, para armas de sete calibres. As armas estavam escondidas embaixo de uma cama. Segundo a polícia, parte da munição é de uso exclusivo do Exército.
O parlamentar justificou que mantinha armas no local, porque se sentia inseguro. Nader é sócio do Clube de Pesca que pertence a outras cinco pessoas, entre elas, Domingos Resende que tem uma rixa com o deputado por uma questão de terras. Nader responde a ação movida Resende e sua família que alega usucapião das terras que compõem a propriedade em Pium.
Por ter sido preso em flagrante, praticando crime inafiançável, o petebista não tem direito a recorrer a imunidade parlamentar para evitar a prisão. A Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) divulgou nota informando que a Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) se reunirá hoje para discutir o caso. O regulamento interno da Alerj prevê, no caso de flagrante de crime inafiançável, o debate entre os parlamentares para discutir a culpa ou inocência do deputado envolvido.
Ontem o deputado estadual Carlos Minc (PT) afirmou que Nader corre risco de perder o mandato, pois o código do Conselho de Ética da Alerj prevê crime de quebra de decoro em casos de flagrantes por crimes inafiançáveis envolvendo parlamentares em exercício.
— O caso dele é gravíssimo. Foi preso com armas ilegais. Em vista disso, a Assembléia vai se pronunciar para garantir que ele continue preso. Em vários pontos, nosso código de Ética é claro em apontar que cometer crime inafiançável é quebra de decoro. Logo em um momento que o país está discutindo a legalidade da posse de armas. Isso é um caso de deseducação.
Segundo o delegado que cuidou do caso, Fernando Ubaldo, o advogado do parlamentar está tentando um pedido de relaxamento de prisão, mas as chances do juiz responsável pelo caso aceitar são mínimas.
Família tradicional e polêmica
José Nader Junior pertence a uma tradicional e polêmica família do Rio. Seu pai, José Leite Nader, foi presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, em 1991, sendo reeleito em 1993. Em dezembro de 2000, o Supremo Tribunal de Justiça instaurou ação penal contra o ex-presidente da Alerj para investigar denúncias de formação de quadrilha e participação num dos maiores esquemas de fraude com recursos públicos destinados à área da saúde em 1994. Atualmente, José Leite Nader ocupa um cargo vitalício de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), responsável pela correção dos orçamentos estaduais. Carlos Nader, que é primo de José Nader Júnior, é deputado federal.
José Nader Júnior é um pescador nato. Jura que já capturou em seu anzol peixe de 60 quilos. Preso com peixes em extinção e armas ilegais, apesar de não ter se posicionado publicamente a respeito da campanha do desarmamento, Nader Júnior já se defendeu de atentado que sofreu, armado, ao lado de seus seguranças. (Jornal do Brasil, 14/10)