Seca na Amazônia: Dezessete cidades recebem socorro
2005-10-17
Duzentas e trinta e nove toneladas de alimentos já chegaram às sedes de oito
municípios atingidos pela seca no Amazonas: Anori, Anamá, Caapiranga, Manaquiri,
Iranduba, Manacapuru, Careiro da Várzea e Careiro. Elas atenderão 9.210 famílias que vivem em comunidades isoladas nas beiras dos lagos e pequenos rios secos. As cestas
básicas e medicamentos seguem hoje de navio para outros nove municípios ao longo do
rio Solimões e seus afluentes. Também hoje uma carga de nove toneladas de hipoclorito
de sódio deve chegar em um avião da FAB à capital, Manaus. (CP, 17/09)
Satélite americano registra seca que afeta a Amazônia
O satélite americano Landsat captou imagens que mostram os efeitos da estiagem nos
rios Solimões e Negro, na região de Manaus. O Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) processou as informações. No Rio Negro, aparecem três áreas
impactadas pela vazante intensa. Na região mais abaixo, há áreas com novas praias
aflorando, de até 10 quilômetros de comprimento por 4 metros de largura. (CP, 15/10)
Município amazonense tem 2 mil pescadores sem emprego e 8 mil sem alimento
O prefeito de Manaquiri, município mais atingido pela seca no Amazonas, Jair Souto, 34, previu hoje que toda a região de lagos próxima a Manaus pode levar vários anos para se recuperar totalmente dos estragos produzidos pela estiagem. Ele disse que terá de enfrentar duas grandes tragédias daqui por diante junto com prefeitos de outros 12 municípios na mesma situação. A primeira será a escassez de alimentos, com o quase desaparecimento dos estoques pesqueiros dos lagos e braços de rios onde estão localizados tais municípios.
— Se formos esperar os rios se recomporem naturalmente vai demorar uma eternidade - disse o prefeito, defendendo que haja imediato repovoamento das espécies de peixes com alevinos reproduzidos em cativeiro e tão logo comece a subida das águas - o peixe é a principal fonte de alimentos das 8 mil famílias que habitam o Manaquiri.
A outra tragédia na visão do prefeito é a falta de ocupação e renda para 2 mil pescadores.
— Sei de famílias que não conseguem mais dormir só de pensar que perderam a sua principal fonte de sobrevivência e de renda - alertou.
Na comunidade do Inajá, onde centenas de toneladas de peixes morreram com a seca dos lagos no seu entorno, o prefeito disse que conversou com vários pescadores no sábado e a intenção deles é a de abandonar as terras imediatamente e migrar para a capital.
— Eu expliquei para eles que teremos de encontrar uma solução aqui mesmo, porque para quem não tem estudo, a capital é uma grande ilusão - frisou.
Vai demorar vários dias até que todas as mais de mil comunidades ribeirinhas atingidas pela atípica e rigorosa seca dos rios possam ser atendidas com a distribuição de alimentos, água potável e remédios.
Nos dois primeiros dias da operação emergencial montada para assistir as famílias ribeirinhas, apenas seis das 12 comunidades isoladas do Manaquiri conseguiram ser atendidas com mantimentos e água potável. As outras seis comunidades devem ser atendidas ainda no dia de hoje.
A boa notícia do dia foi divulgada pelo coordenador da Comissão Estadual de Defesa Civil, coronel Franz Alcântara: a de que os rios começaram a encher nas cabeceiras num ritmo também alucinante.
— Os tempos mudaram e as chuvas que chegavam em novembro agora desabam em outubro - disse o coronel, lamentando, porém, que leve de um a três meses para que o rio volte a ser navegável totalmente.
— A fartura de peixes é que não sabemos quando voltará novamente. (Jornal do Brasil Online, 16/10)
Seca e isolamento eleva custo de vida no AM
Gasolina, diesel, gêneros alimentícios e remédios, entre outros produtos, só chegam a Caapiranga (AM) por meio dos rios. O abastecimento sai de Manaus, que fica a 222 km da cidade. Caapiranga é um dos cinco municípios do Estado isolados pela seca que diminuiu o nível de rios da Amazônia. O Solimões, que banha a cidade, registrava ontem 92 cm de profundidade em Tabatinga -o normal são 12,30 m.
A gasolina subiu de R$ 2,50 para R$ 3, e o diesel passou de R$ 2 para R$ 2,30.
— Aumentou tudo: gasolina, cebola, tomate, leite - disse o professor Raimundo Áldino Cleto da Silva, que tentou comprar gasolina para a única motocicleta da comunidade chamada Maranhão, mas desistiu por causa do preço.
O dono do posto de combustível, José Almir Reis, 45, disse que a gasolina aumentou devido à dificuldade de trazer o produto nas embarcações.
Sem gasolina, o único hospital da cidade deixou a ambulância estacionada e faz o transporte dos doentes em um Escort 89.
— A ambulância gasta muita gasolina - disse o motorista Marcos Pinto, 27.
Anteontem uma embarcação conseguiu chegar à cidade trazendo gêneros alimentícios para o único supermercado local.
— A viagem do barco [com os produtos] durou 12 horas - disse o gerente do estabelecimento, Francisco Uchôa, 60. As mercadorias foram colocadas em um caminhão, que ainda demorou quatro horas para ser carregado e percorrer uma estrada de 32 km até a sede da cidade. Com os custos do transporte, o quilo do frango aumentou de R$ 3,50 para R$ 3,80; o da cebola, de R$ 2,50 para R$ 3. Não há leite. Uma garrafa de 600 ml de água mineral custa R$ 1.
Energia elétrica - O estoque de óleo diesel da usina termoelétrica de Caapiranga é suficiente para gerar energia elétrica para a cidade apenas até terça-feira.
A usina produz em média 500 KW de energia/dia para atender 900 pontos residenciais e comerciais e 5.000 pessoas. O reservatório tem capacidade para 80 mil litros de óleo. Segundo o gerente da Ceam (Companhia Energética do Amazonas) Valtemir Leandro Gomes, 49, restaram apenas 18 mil litros. A esperança é uma balsa que sairia hoje de Manaus com 75 mil litros de diesel.
O acesso à cidade é pelo lago que dá nome à cidade. Seco, ele bloqueou a passagem até o rio Manacapuru, que desemboca no rio Solimões. O único banco funciona via postal, na agência dos Correios, sem receber correspondência há uma semana.
O Comando Militar da Amazônia informou ontem que o início das ações de socorro às comunidades atingidas pela seca no Amazonas depende apenas de definições do governo do Estado. A previsão do Estado é que a operação só comece efetivamente amanhã. (Folha de S.Paulo, 14/10)