Florestas não absorvem emissão de carbono
2005-10-17
Os cálculos apresentados pelo pesquisador Cléber Salimon, mesmo em se tratando de estimativas, apontam para uma realidade importante. Onde existe floresta amazônica em pé e saudável, como é o caso do Estado do Acre, a preservação desse ecossistema passa a ser praticamente a única forma possível de conseguir evitar que ainda mais carbono seja lançado na atmosfera. E isso é fundamental para que o chamado aquecimento global não se torne um problema ainda maior.
— O Estado do Acre hoje não pode ser considerado um sumidouro de carbono - disse Salimon, que é ligado ao Centro de Energia Atômica da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, à Agência Fapesp. Os cálculos apresentados pelo cientista, que também trabalha no âmbito do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), financiado em parte pela Fapesp, são claros.
— O fluxo líquido de carbono mostra que o estado hoje está lançando na atmosfera de 240 a 180 milhões de toneladas. Isso para dados válidos entre 1977 e 2003.
Para chegar aos números acima, o pesquisador brasileiro usou a quantidade de carbono aéreo liberado e aquilo que é absorvido tanto pelas pastagens como pelas capoeiras.
— Não se trata de afirmar que as florestas secundárias não são importantes. Mas não se pode falar que elas são a solução para tudo.
Os números mostram, segundo Salimon, que apenas entre 8% e 16% do total de carbono emitido pelo desmatamento é absorvido pelas florestas secundárias.
— O Brasil está praticamente exportando sua biodiversidade em forma de fumaça - afirma Salimon. Para o pesquisador, uma das ações mitigatórias que poderia tornar o balanço um pouco mais positivo é o fortalecimento dos chamados sistemas agroflorestais.
— Nesses casos, onde existe uma produção maior, consegue-se fixar mais carbono no solo - avalia. Nesses processos, que já estão sendo usados em determinadas áreas da Amazônia, existe uma mescla entre plantio de madeira e de culturas agrícolas, como o milho e o café.
Não basta apenas isso, esclarece o cientista. — Para que o desmatamento diminua mesmo é necessário que sejam cumpridas as leis que já existem e que a fiscalização aumente. E isso tanto nas pequenas propriedades como nas grandes.
Para Salimon, ao mesmo tempo que as leis ambientais brasileiras podem ser consideradas boas, elas também facilitam algumas práticas ilegais.
— As multas ambientais, por exemplo, perdem valor em cinco anos - disse.
Em tempos em que o Protocolo de Kyoto virou Tratado e as bolsas de valores, seja da Europa, dos Estados Unidos e até do Brasil, estão bastante voltadas para o chamado mercado de seqüestro de carbono, os cálculos científicos feitos no Acre surgem como um aviso interessante. Nenhuma dessas discussões pode ficar na frente de uma outra que é bem mais importante.
— Antes de mais nada, a biodiversidade amazônica precisa ser preservada. (Agência Fapesp, 13/10)