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2005-10-17
Com abundância de terras disponíveis e incentivos governamentais, Brasil, Uruguai, Argentina e Chile atraem como nunca indústrias de base florestal e já são o mais promissor pólo do setor no planeta. No Brasil, o segmento, incluindo celulose, papel e madeira, aplicou US$ 12 bilhões nos últimos 10 anos e tem investimentos programados de US$ 14 bilhões até 2012.

A compra de áreas por grandes fabricantes mundiais, reveladas na semana passada, mostra o Rio Grande do Sul na ponta desse movimento, cuja surpresa é o Chile, que já é o quarto produtor mundial de celulose de mercado, atrás do Brasil, Espanha e Portugal. No Uruguai, o plantio com incentivo governamental ocorre há mais de uma década e o país da pecuária tem proporcionalmente mais áreas destinadas ao florestamento do que o Brasil.

Depois de uma disputa que gerou até controvérsia diplomática com a Argentina, o Uruguai será a sede de duas plantas - da finlandesa Botnia e da espanhola Ence, projetos que somam cerca de US$ 2 bilhões.

A aquisição de terras para o plantio de florestas é, por razões óbvias de logística, o primeiro passo para a instalação de indústrias - a Stora Enso anunciou que montará uma unidade em solo gaúcho, e a Aracruz tem o Estado na lista de possíveis locais para sua nova planta, a ser anunciada até o final deste ano.

Para as economias latinas, os arranjos de base florestal são a esperança de levar o desenvolvimento a regiões pouco industrializadas. No caso do Rio Grande do Sul, a expectativa é de geração de emprego e renda na Metade Sul. O setor exerce hoje um fascínio semelhante ao das montadoras, no passado.

- Para cada R$ 1 milhão investidos, o setor gera 163 empregos, enquanto, como o mesmo valor, o comércio abre 140 vagas, a construção civil, 111, e a indústria automobilística, 85-, afirma Floriano Isolan, consultor do Proflora/Caixa RS.

O plano do governo gaúcho é aumentar dos atuais 360 mil para 500 mil hectares as florestas plantadas até o final de 2006. Neste ano, o Proflora/CaixaRS liberou R$ 23 milhões para financiar 18 mil hectares, informa Isolan.

Pesam a favor do Rio Grande do Sul a extensão de terras disponíveis - a estimativa é de que as florestas plantadas, considerando os novos investimentos, ocupem no máximo 6% dos 15 milhões de hectares disponíveis para agricultura no Estado - e a tradição no setor. Há cem anos os gaúchos manejam florestas.

O vice-presidente da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), Celso Foelkel, observa que a modernização tecnológica das fábricas reduziu um dos principais entraves: a questão ambiental. Embora especialistas alertem para os riscos à flora e à fauna caso o plantio de florestas ocupe grandes extensões do pampa, a resistência cultural e política dos gaúchos diminuiu. Em parte, porque as empresas também passaram a investir mais em processos menos poluidores, até por exigências de seus clientes.

- As fábricas no Hemisfério Sul são mais novas e com processos menos agressivos-, afirma Foelkel.

Em relação ao plantio de florestas, Isolan lembra que a liberação de projetos segue padrões similares aos da Finlândia, modelo do setor, e exige que, para cada dois hectares plantados, haja um destinado à área de preservação.

Da floresta à fábrica

Não é preciso ir longe para entender como floresta pode virar sinônimo de indústria na Metade Sul.

Atravessando a ponte do Guaíba, o horizonte recortado por eucaliptos e a fumaça constante das duas chaminés da Aracruz dão uma mostra de como a madeira recém-chegada da floresta vai se transformar em celulose e estar embalada e pronta para ser embarcada aos clientes 24 horas depois.

É num ciclo de 24 horas que a indústria funciona quase todo o ano - com uma parada operacional de apenas 11 dias. Nesse ritmo frenético, 430 funcionários giram em torno da celulose. Alguns acompanham, do alto de um trator, o guindaste agarrar as toras de madeira recém-descarregadas do caminhão e lançá-las à lavagem e ao corte. Outros controlam, por meio de um painel climatizado, o cozimento dos cavacos (pedaços de madeira) numa imensa torre. Dentro da fábrica, outros reparam no branqueamento da fibra. E, em qualquer lugar, duas características deixam claro que se está numa fábrica de celulose: o cheiro de gás de cozinha e o calor.

Segundo o diretor de Qualidade e Meio Ambiente, Clóvis Zimmer, para identificar vazamentos, é usada uma substância que é a mesma utilizada no gás de cozinha e, por isso, o cheiro é forte. A sensação térmica é de uma Porto Alegre em pleno verão com o máximo de umidade no ar. A água usada para produzir a celulose e a alta temperatura das prensas e dos difusores de secagem colaboram com essa impressão.

Por fim, a pasta branca e aguada ganha outro aspecto. Chega-se ao fim do ciclo e, em formato de folha, a celulose é cortada e embalada para se tornar outra matéria-prima, desta vez da indústria do papel. Em um dia, são 1,2 mil toneladas de fibra que deixam a unidade fabril para serem exportadas principalmente ao mercado asiático, onde os clientes a transformam em papel para impressão escrita. Isso representa 275 milhões de folhas A4, aquela que se usa em escritórios e escolas todos os dias, e cerca de US$ 700 mil em negócios.

- É um mercado em expansão no Brasil. Na Europa se produz 10 vezes mais do que aqui. E lá não se tem a mesma produtividade e os custos reduzidos do Brasil-, diz Zimmer, lembrando, porém, que se trata de um negócio cujo preço é regulado pelo mercado internacional.

- Celulose é commodity. Toda a margem competitiva é feita em eficiência de custos. Uma fábrica moderna tem de trabalhar com capacidade de produção de 1 milhão de toneladas por ano para explorar esse mercado, caso contrário está defasada-, complementa, lembrando o próprio exemplo da empresa em que atua, cuja produção é hoje de cerca de 420 mil toneladas anuais. (ZH, 16/09)

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