Venezuela negocia energia nuclear com Brasil e Argentina
2005-10-17
A Venezuela conversou com a Argentina e o Brasil sobre uma possível cooperação internacional para produzir energia nuclear, disse o presidente venezuelano Hugo Chávez no sábado (15/10). –Estamos abrindo mecanismos de cooperação com alguns países, afirmou Chávez a repórteres, mencionando a Argentina e o Brasil.
Marco Aurélio Garcia, assessor de política internacional do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, disse que o Brasil está examinando formas de cooperar
com a Venezuela no campo nuclear. –Nós estamos estudando formas de cooperação nessa área, assim como temos na área do petróleo–, disse Garcia durante encontro de líderes ibéricos e latino-americanos. Anteriormente, o governo brasileiro havia dito não estar considerando nenhuma cooperação com a Venezuela na área nuclear.
A Venezuela, quinto maior exportador de petróleo do mundo, é um dos
principais fornecedores para os Estados Unidos, mas Chávez freqüentemente
entra em conflito com o governo norte-americano, que se preocupa com as ligações entre Caracas e o governo de Fidel Castro em Cuba. Garcia afirmou, no entanto, não haver nenhuma razão para que a cooperação com a Venezuela na área nuclear seja temida. –Eu não vejo nenhum problema com isso porque nossos programas (nucleares) são completamente transparentes–, disse ele, ao ser perguntado se as conversas poderiam preocupar Washington.
Em 2004, o Brasil se tornou um dos poucos países a deter a tecnologia de
enriquecimento de urânio com as instalações desenvolvidas em Resende, no
Estado do Rio de Janeiro. As autoridades brasileiras garantem que a tecnologia será usada apenas para fins pacíficos. Armas nucleares são proibidas pela Constituição brasileira. Ainda assim, o Brasil teve alguns meses de tensa negociação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que teve negado seu pedido para ter acesso integral às instalações de Resende.
Segundo artigo publicado pelo jornal argentino Clarín, a Venezuela, que faz
parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), teria pedido para comprar um reator de média potência durante um encontro com autoridades argentinas em Buenos Aires, em agosto. O jornal informou, há uma semana, que o pedido feito pelo governo venezuelano estava sendo tratado –como uma batata quente– pela administração do presidente argentino Néstor Kirchner.
Apesar das ligações do presidente Kirchner com Chávez, o Clarín informou que alguns argentinos temiam que a Venezuela tenha o objetivo secreto de
desenvolver armas nucleares, enquanto outros simplesmente não queriam
irritar o governo norte-americano. Chávez anunciou em maio a intenção de estudar o uso da energia nuclear, dizendo que seu governo poderia iniciar negociações com o Irã, bem como com o Brasil e a Argentina. (Reuters, 15/10)