Reatores nucleares em 25 campi de colégios dos EUA são inseguros
2005-10-14
Uma investigação promovida pela rede de notícias ABC, dos Estados Unidos, durante um mês, mostra a existência de lapsos de segurança em reatores nucleares de pesquisa que se localizam em 25 campi colegiais localizados por todo o território norte-americano. Entre as conclusões, destacam-se: falta de proteção nas cabines que protegem os reatores, guardas que parecem adormecidos, portas destravadas e, em diversos casos, guias de turismo que facilitam o acesso a salas de controle e a conjuntos de reatores onde há combustível radioativo.
Segundo apurou a ABC News, nenhum dos reatores visitados tem detectores de metais, e apenas um parece ter guardas armados. Muitas das escolas permitem que veículos se aproximem dos prédios onde ficam os reatores sem inspeção de explosivos.
Um porta-voz da Comissão Regulatória Nuclear (NRC), que supervisiona os reatores de pesquisa localizados em unidades escolares, disse que, baseado nas conclusões da ABC News, a agência está abrindo uma investigação em pelo menos cinco das escolas visitadas pelos jornalistas.
— A NRC não vai hesitar em adotar medidas enérgicas e ações se encontrar violações–, disse Eliot B. Brenner, diretor da NRC para a área de Negócios Públicos. A NRC está também revisando a adequação dos planos de segurança dos reatores em outras escolas, assinalou Brenner.
Mas críticos no Congresso informaram que as conclusões da rede de TV revelam outra área em que a NRC demora a ter resposta: a de ameaças de ataques terroristas. — Os problemas de segurança expostos aqui oferecem uma evidência de que, quatro anos após onze de setembro, a NRC não fez nada suficiente para assegurar nossas unidades nucleares–, afirmou o senador republicano Edward Markey, de Massachusetts, membro sênior do Comitê de Comércio e Energia da Câmara dos Representativos, que inspeciona a própria NRC.
Os reatores de pesquisa nuclear localizados nos campi são alvos fáceis para homens bomba suicida, disse o deputado republicano Christopher Shays, de Connecticut, secretário do Subcomitê de Reforma de Segurança Nacional, Ameaças Emergentes e Relações Internacionais da Casa governista.
— Os laboratórios de pesquisa nuclear são alvos atraentes para terroristas determinados a colocarem a moderna tecnologia contra nós e a fazerem isto mesmo querendo morrer. É imperativo que nossas unidades de pesquisa nuclear tenham o mesmo rigor de segurança em suas demandas do que o que requeremos de outras agências federais–, destacou Shays.
A investigação da ABC foi feita junto com a Carnegie Corporation de Nova Iorque, que convidou administradores de cinco escolas para selecionarem dois de seus mais proeminentes estudantes de jornalismo e jornalistas já graduados para trabalharem nas investigações. Os dez estudantes, bolsistas da Carnegie, viajaram pelo país para testar a segurança de 25 reatores, gravando seus achados em câmeras de turistas.
A NRC não publicou a identidade das escolas cujas unidades estão sob investigação, mas investigadores da comissão informaram à ABC que estão buscando possíveis brechas nos protocolos de segurança de escolas como as da Universidade da Flórida, Universidade de Wisconsin, Purdue, Ohio State and Texas A&M. Quatro das cinco escolas sob investigação utilizam materiais à base de urânio altamente enriquecido a fim de operarem seus reatores. – Urânio altamente enriquecido é uma ameaça inaceitável para mim e para os cidadãos americanos de qualquer lugar–, disse o professor Graham T. Allison, do Centro Belfer para a Ciência e Negócios Internacionais da Universidade de Harvard. – Somos tão vulneráveis quanto os últimos elos na cadeia–, disse.
Especialistas em segurança nuclear afirmam que há uma significativa ameaça de sabotagem, mesmo que as unidades usem urânio de baixo enriquecimento. No caso de sabotagem, uma unidade poderia, com efeito, transformar-se em uma bomba suja – assim chamada por usar explosivos convencionais, como dinamite, para espalhar material radioativo. Deste modo, uma maior quantidade de material radioativo se dispersa, ampliando o potencial de perigo para comunidades vizinhas. – Material explosivo mais radiotaivo é igual a bomba suja–, assinalou Allison.
A maioria dos reatores dos colégios foi construída durante a Guerra Fria, num esforço para demonstrar o uso pacífico da energia nuclear. Mesmo unidades menores e menos poderosas do que as plantas comerciais convencionais, os reatores de colégios podem sim ser considerados um risco, dada a existência de material radioativo e as multidões que freqüentam campi desses colégios, bem como áreas urbanas próximas.
No entanto, — os reatores de pesquisa não são exigidos a estarem protegidos contra sabotagem da mesma forma que os reatores estão–, afirmou Matthew Bunn, da Universidade de Harvard, ex-conselheiro da área de Política Científica e Tecnológica da Casa Branca. – Os custos de segurança atualmente impõem sérias restrições, e muitos deles provavelmente fechariam–, acrescentou.
Na Flórida, em Wisconsin, em Purdue e no Estado de Ohio, os bolsistas da Carnegie conseguiram ter acesso a áreas de alta segurança sem qualquer checagem, carregando grandes malas, sem serem inspecionados antes de entrarem na área dos respectivos reatores. Oficiais que atuam nas escolas dos campi disseram duvidar de que os reatores colocam as comunidades próximas em risco, pois, segundo eles, os reatores armazenam pequenas quantidades apenas de material radioativo.
Na Texas A&M, os bolsistas juntaram-se a um guia de turismo que não exigiu checagem e sequer pediu identidade. O guia ainda informou que o reator não contava com um guarda. Mas a Texas A&M informou que desde que mudou sua política, está requerendo checagem para qualquer pessoa que queira ver o seu reator.
No Massachussets Institute of Technology (MIT), os bolsistas conseguiram achar na Internet sites mostrando o esquema e o cronograma de operação das plantas dos reatores – na própria biblioteca do instituto. Os investigadores da NRC informaram que vão querer saber como tais informações estavam publicamente disponíveis. Segundo a ABC News, veículos podiam parar sem qualquer problema numa estrada a 50 pés (16 metros) do prédio do reator. Para Ronald Timm, um ex-analista de segurança do Departamento de Energia, este é um mau sinal, pois –um veículo é uma ameaça real. Deve-se ter segurança de que um caminhão ou veículo fique a pelo menos 250 pés de distância–, observou.
(Fonte: ABCNews, 12/10)