Espécies invasoras ameaçam o equilíbrio do ecossistema gaúcho
2005-10-14
Por Patrícia Benvenuti
Entender as dimensões do termo exótico . Para Luiza Chomenko, bióloga e pesquisadora da Fundação de Zoobotânica, a população em geral costuma associá-lo a algo raro, talvez até mesmo charmoso.
Em sua palestra ontem (13/10), porém, no Fórum de Espécies Exóticas Invasoras e Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Sul, a especialista fez questão de esclarecer, antes de tudo, os usos da palavra. Diferente das nativas, as espécies exóticas são aquelas que se fixam fora da área de sua distribuição natural, longe do habitat de origem.
Durante o painel Panorama de problemas com espécies exóticas invasoras no RS , Luiza apresentou tópicos a respeito da proliferação de alguns desses seres vivos no Estado. Citou os dois tipos de infestação existentes, os intencionais e os acidentais (também conhecidos como incidentais). Entre os acidentais, citou um caso já antigo, mas que ainda serve como uma ilustração dos riscos de trazer espécies desconhecidas para ambientes impróprios. Há alguns anos, o triops (microcrustáceo) era anunciado na televisão como um brinquedo para crianças. Comprado em envelopes, a graça era ver o bichinho, que vinha como um ovinho, crescer e tomar forma. O público gostou da idéia, e a brincadeira caiu no gosto da criançada. Adultos, no entanto, os animais não tinham mais a serventia inicial, e os pais livravam-se das criaturinhas indesejadas jogando-as no ralo da pia. Resultado: uma proliferação descontrolada de pragas de lavouras de arroz. E um dano do tipo ainda pode acontecer com os pets (como lagartos e mini-tartarugas) comercializados.
Como intencionais, há exemplos na piscicultura. Alguns peixes, usados com fins econômicos, podem se tornar predadores de animais nativos da região para onde foram levados. O maior expoente dessa discussão, contudo, está nas florestas de pinus e eucaliptos, polêmica levantada com o anúncio, há algumas semanas, da instalação de uma fábrica de celulose na Metade Sul (RS).
De acordo com Luiza, verifica-se atualmente, em terras gaúchas, cerca de 12 espécies exóticas invasoras. A rã-touro (Rana catesbeiana ), o vírus da aftosa, o capim-anoni, o mexilhão-dourado, os mosquitos borrachudos (Simullium spp) e o javali são casos emblemáticos. Os javalis — trazidos à Argentina e ao Uruguai para caça — vieram para solo brasileiro por causa das fronteiras sempre abertas com os países vizinhos.
— Isso demonstra como o cuidado é necessário no momento de colocar em um certo ambiente qualquer ser vivo não pertencente àquele meio-, afirma a pesquisadora.
As espécies exóticas invasoras provocam danos dificilmente recuperáveis ao ecossistema: alteração na disposição de nutrientes no solo, disputa pela água, transformação na estrutura da comunidade, alteração das cadeias alimentares, introdução de doenças, extinção de espécies e outras mudanças na geografia local.
A bióloga ressaltou que, para reverter o problema, é preciso que a população compreenda os efeitos desse tipo de infestação. Para isso, foi assinado ontem (13/10) um protocolo de intenções entre diversas entidades, instituições e empresas a fim de que ações possam ser tomadas o mais breve possível.
— Fala-se muito em meio ambiente, mas é hora de conscientizar e agir também -, destaca o secretário-executivo do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, Rodrigo Quadros.
Além do protocolo, Luiza acredita que um maior incentivo à pesquisa impulsionaria a busca por soluções. – É preciso estar atento às medidas de biossegurança e trabalhar sempre em novos projetos-, conclui.