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2005-10-13
Em meados de 1990, o empresário Miguel Krigsner, presidente da indústria de cosméticos O Boticário, decidiu investir parte do lucro da empresa na causa ambiental. Influenciado por uma palestra do ambientalista José Lutzemberg, que havia visto anos antes, na faculdade ainda, sua proposta inicial era ambiciosa. Queria plantar uma árvore para cada produto do Boticário vendido. Tinha em mente ainda a experiência da organização KKL, que desde 1901 vem recuperando áreas degradadas em Israel, a partir de doações da comunidade judaica em todo o mundo.

Com uma venda anual de 6 milhões de produtos por ano, seria grande o desafio de prosseguir com a idéia original de plantar árvores, uma vez que não haveria áreas disponíveis nem recursos financeiros suficientes para a empreitada. Reuniu acadêmicos e profissionais da área ambiental para definir uma estratégia, até que chegaram à conclusão de que seria mais viável conservar a natureza remanescente do que plantar tantas árvores. Assim foi criada a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, uma das ONGs conservacionistas brasileiras que mais têm se destacado nos últimos anos, em especial no financiamento de projetos de pesquisa científica.

Hoje, 15 anos depois, a Fundação O Boticário já patrocinou 990 projetos de 270 instituições diferentes, que consumiram US$ 6 milhões em recursos. Para isso, 1% do faturamento da empresa é destinado à área de responsabilidade social, sendo que 80% desse recurso é automaticamente repassado à Fundação. Os demais 20% custeiam projetos sociais na região de Curitiba, onde fica a sede do Boticário.

Além da pesquisa científica, a Fundação é mantenedora de uma reserva natural particular, a Reserva Salto Morato, em Guaraqueçaba, no Litoral Norte do Paraná. A área verde, que abriga 2,3 mil hectares de remanescentes da Mata Atlântica, foi comprada em parceria com a The Nature Conservancy (TNC), uma das maiores entidades ambientalistas do planeta. Lá, são realizadas visitas orientadas para fins de educação ambiental e cursos de capacitação em conservação.

— A preservação ambiental é uma luta que O Boticário assumiu, com a criação da Fundação - diz Miguel Krigsner, presidente do Boticário. — Resolvemos usar nossa capilaridade - 2.400 pontos de venda em todo o País - para difundir essa mensagem - completa, salientando que as atividades da empresa e da Fundação funcionam separadamente.

— Nossas ações de preservação não visam o lucro, pois não é nossa intenção transformar a questão ambiental em marketing puro. Mas é inegável que isso traz um ganho de imagem para a marca - diz Krigsner.

De acordo com Miguel Milano, diretor da Fundação O Boticário, há 15 anos eram pouquíssimas as empresas que se dedicavam a investir na área ambiental.

— A Fundação foi criada dois anos antes da Eco 92, que atraiu a atenção da sociedade para as questões relativas ao meio ambiente. E era uma época em que os conceitos de responsabilidade corporativa e de investimento social privado sequer eram conhecidos - diz Milano, que também ocupa o cargo de diretor de Responsabilidade Social na empresa O Boticário.

Além de continuar com o financiamento de projetos de pesquisa - que já possibilitou a descoberta de 17 novas espécies de animais e plantas brasileiros - a Fundação deverá investir mais na aquisição de áreas para serem transformadas em reservas, a exemplo do que foi feito com Salto Morato. A idéia é ter uma reserva em cada um dos biomas brasileiros, como o Cerrado, a Amazônia e os Pampas.

Sapos, rãs e pererecas
O físico catarinense Germano Woehl Júnior é um dos pesquisadores apoiados pela Fundação O Boticário, em quatro diferentes projetos. Apaixonado por anfíbios desde criança, voltou-se para um projeto solitário de conservação quando viu sua região, o Norte catarinense, passar por um intenso processo de degradação, movido pela expansão da cultura de arroz irrigado.

— Vi a Mata Atlântica da região desaparecer, e queria fazer algo para preservar - conta.

Por volta de 1994, ele começou a fotografar os anfíbios que pesquisava em suas saídas a campo. Com o material que acumulou, passou a montar, com recursos próprios, exposições em escolas e bibliotecas. A receptividade foi boa, e mais escolas passaram a querer exibir seus trabalhos. Foi quando ele inscreveu o primeiro projeto no processo seletivo da Fundação, que passou a bancar seu material de trabalho e o aparato logístico para as exposições.

Depois, seus projetos de conservação de anfíbios se ampliaram. Woehl Júnior chegou a mobilizar 750 crianças numa força-tarefa para salvar da extinção os sapos que estavam sendo contaminados por uma espécie de carrapato exótico, que atacava animais de sangue frio. Ele também produziu cartilhas distribuídas em escolas catarinenses, que ensinavam particularidades dos anfíbios e sua importância para a manutenção dos ecossistemas locais.

— Hoje, me dedico a levar as crianças para o meio do mato - brinca, sobre seu trabalho de educação ambiental. (O Estado de S. Paulo, 12/10)

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