Seca deixa Amazonas em estado de calamidade
2005-10-13
Queda do nível das águas dos rios isolou cerca de 32 mil pessoas de uma região que depende do transporte fluvial. A extensão da estiagem no Amazonas levou ontem o governador daquele Estado, Eduardo Braga (PMDB), a decretar estado de calamidade.
A queda no nível dos rios da região isolou cerca de 32 mil pessoas. Com o baixo nível das águas, numa região onde o transporte fluvial, às vezes, é a única alternativa, o abastecimento de água potável, alimentos e medicamento está comprometido. A seca, a pior em 50 anos, ainda aumenta o número de incêndios na floresta.
Muitas palafitas - casas suspensas sobre a margem dos rios - já não têm mais água embaixo de suas estruturas. Em Tabatinga, na fronteira com a Colômbia, a seca do Rio Solimões (como é chamado o Amazonas na região oeste do Estado) obrigou a prefeitura a improvisar um porto para a cidade.
- Desde 16 de setembro, o flutuante (local onde os barcos atracavam) está em terra firme. Mas conseguimos improvisar um novo ancoradouro - afirmou o chefe de gabinete da prefeitura de Tabatinga, Manoel Góes dos Santos.
Com o rio raso, a dificuldade de navegação aumentou de quatro para cinco dias a viagem de barco entre a cidade e a capital, Manaus. Tabatinga é um dos 62 municípios amazonenses em estado de calamidade. Os municípios sofrem com a baixa no nível dos rios Solimões, Purus, Madeira e Juruá.
Em outro município, a baixa histórica do nível de água do Rio Manacapuru, em Manaquiri, resultou na morte de milhares de peixes.
Alimentos são distribuídos por aviões militares
A estação seca na Amazônia ocorre entre os meses de junho a setembro. Este ano, a temporada sem chuva se estendeu até outubro, comprometendo o abastecimento das cidades. O aumento das queimadas na região agrava o fenômeno: a fumaça interfere no processo de geração de chuvas - ela retira nutrientes essenciais para a floresta, como o fósforo.
Para enfrentar a situação, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e governo do Estado montaram uma força-tarefa. Aviões militares e 150 bombeiros estão sendo usados para levar mantimentos a regiões inóspitas.
- Eles estão cadastrando as famílias, levantando suas necessidades. Estamos empregando um caminhão fabricado no Corpo de Bombeiros, que trafega em qualquer terreno, e motocicletas, na busca de pessoas perdidas na mata para percorrer o leito dos rios secos - contou o coordenador da Defesa Civil do Amazonas, coronel Franz Marinho Alcântara.
Segundo a meteorologista Cátia Valente, da Central de Meteorologia, a seca pode ser provocada pelo aquecimento das águas do Atlântico Norte, responsável pela temporada de furacões que atingiu os EUA nos últimos meses.
O fenômeno concentraria a umidade no oceano, impedindo a formação de nuvens que já deveriam estar provocando a chuva na Amazônia. (ZH, 13/10)