Os ventos que põem o Estado em alerta
2005-10-13
O Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRSPE) de Santa Maria emitiu ontem um alerta sobre o avanço no Rio Grande do Sul de uma frente de baixo índice de ozônio na estratosfera. A média histórica dos últimos 13 anos é de 293 UD, unidade que mede a concentração do ozônio. Ontem, o índice foi de 262. Na terça-feira, o valor era de 273. A conseqüência direta do fenômeno é o aumento da incidência dos raios ultravioleta. Isso significa que a população deve ficar atenta e se proteger quando tomar sol.
O observatório do centro, em São Martinho da Serra, faz a medição diária do buraco na camada ozônio no continente antártico desde 1992, com o Laboratório de Ciências Espaciais de Santa Maria (Lacesm), ligado à UFSM.
A camada de ozônio é como um guarda-chuva do planeta. Mas a proteção está esburacada. As medições em Santa Maria, feitas com sensores no observatório e com imagens de satélites da Nasa (agência espacial dos EUA), mostram que o buraco aumenta no fim do inverno e tende a diminuir no verão. É uma primavera traiçoeira que atinge a população desprevenida. Pegar aquele solzinho inocente pode ser perigoso.
Nos seres humanos, os raios ultravioleta causam câncer de pele, catarata e envelhecimento precoce da pele (leia reportagem na página ao lado). Nas plantas, atrasa a fotossíntese e o crescimento, prejudicando a agricultura. Nos mares, afeta o plâncton marinho.
Fenômeno ocorreu outras duas vezes
O fenômeno não é inédito. Em 1993 e 2003, anos em que foram registradas as maiores dimensões do buraco na Antártica, as frentes de ar rarefeito de ozônio também chegaram ao Estado.
- São ventos de 200 km/h a 300 km/h, pobres em ozônio. Na segunda-feira, a frente estava na Argentina. Na terça-feira, passou pelo Uruguai e atingiu o Rio Grande do Sul. Estamos dando o alerta para que a população se proteja do sol - afirma Nelson Schuch, chefe do CRSPE, unidade do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), que utiliza chapéu e filtro solar 100 e fez a mesma recomendação para sua equipe.
Segundo Schuch, 1% na redução da camada de ozônio representa o acréscimo de 1,2% na incidência dos raios ultravioleta. O tamanho do buraco na Antártica - que varia diariamente - está em torno de 19 milhões de quilômetros quadrados.
O principal eliminador do ozônio na estratosfera seria a emissão de clorofluorcarbono (CFC). Estima-se que uma única molécula de CFC poderia destruir 100 mil moléculas de ozônio. O CFC, proibido desde 1994 no Rio Grande do Sul, é emitido principalmente por aerossóis e aparelhos de refrigeração (geladeira, freezers, condicionadores de ar).
- Alguma coisa está mal com a camada de ozônio. É importante o monitoramento diário para que tenhamos dados para fazer uma comparação. Estamos 7% abaixo da média histórica. Por isto recomendamos cuidados, uma vez que os efeitos da radiação ultravioleta são acumulativos - explica Schuch. (ZH, 13/10)