Itatiaia e Serra dos Órgãos: Agora sob nova direção
2005-10-11
As unidades de conservação brasileiras finalmente podem receber um tratamento nos
moldes do Primeiro Mundo. As administrações dos parques nacionais de Itatiaia e da
Serra dos Órgãos, ambos no Rio de Janeiro, planejam abrir concessões privadas para
vários serviços. Serão licitadas as licenças para empresas especializadas gerirem
restaurantes, lanchonetes, além de operar transporte de turistas e aventureiros.
Essas firmas vão ficar responsáveis pela manutenção das áreas onde atuam, dividindo
um fardo hoje exclusivo dos fiscais do Ibama. – Quem vai ganhar mais com isso serão
os turistas-, diz Ivan Batiston, coordenador-geral de unidades de conservação do
órgão. A mudança de gestão, que acompanha o padrão dos países desenvolvidos, segue
uma experiência bem-sucedida no país, a de Foz do Iguaçu, no Paraná, que privatizou
os serviços há três anos.
O Parque Nacional de Foz do Iguaçu, na fronteira com a Argentina e o Paraguai, é
famoso pelas cataratas, mas também abriga 1.800 quilômetros quadrados de Mata
Atlântica. Sete empresas cuidam de um restaurante, quatro lanchonetes, um resort,
além de oferecer transporte em oito ônibus elétricos, opções de passeio de barco,
sobrevôos de helicóptero e três rotas guiadas pelas trilhas feitas a pé ou de
mountain bike. Com o dinheiro das concessões, um novo centro de visitantes foi
construído.
– Nunca imaginei que os guias fossem trilíngües. Nem que as trilhas fossem tão bem
sinalizadas-, diz a estudante paulista Barbara Taborda, que visitou o parque com o
namorado. Não se vê um papel nas trilhas e ao longo do caminho. – A estrutura é
melhor que a do lado argentino-, reconhece o arquiteto Paulo Michel, de Buenos Aires.
O parque paranaense criou mais de 700 empregos diretos e indiretos em 2004 e recebe
cerca de 1 milhão de pessoas por ano. No primeiro semestre de 2005, já arrecadou R$
6,2 milhões. Mas ainda faltam alguns ajustes. O dinheiro que as empresas
concessionárias pagam à administração do parque vai diretamente para o caixa da
União. E o governo federal só repassa de volta 20% disso ao órgão. – Por mais que os
parques atraiam visitantes, o Ibama continua sem recursos para fazer a manutenção das
áreas-, queixa-se Apolonio Rodrigues, do Ibama, no Iguaçu. Dos 55 parques
gerenciados pelo Ibama, só 15 estão liberados para visitação pública. Os demais não
têm a infra-estrutura básica e ainda sofrem com invasões de fazendeiros, posseiros e
madeireiros.
Os parques da Serra dos Órgãos e de Itatiaia serão os próximos a privatizar os
serviços. – Estamos organizando várias concessões, entre elas uma pousada, centro de
visitante, lojas, lanchonete, transporte e escola de montanhismo-, explica o chefe
do parque da Serra dos Órgãos, Ernesto Viveiros de Castro. Apesar de estar localizada
a 1h20min do Rio de Janeiro, entre duas cidades serranas turísticas, Teresópolis e
Petrópolis, por ano a unidade recebe apenas 70 mil visitantes e arrecada só R$ 200
mil. – O potencial é muito maior, mas não temos estrutura-, diz Castro. O parque,
que abriga picos famosos, como o Dedo de Deus e a Pedra do Sino, é um dos paraísos
nacionais do montanhismo. – Sem as concessões fica difícil de administrar uma área
como essa, porque os recursos estão escassos-, explica o chefe do Parque Nacional de
Itatiaia, Walter Behr. O local, a meio caminho do Rio e de São Paulo, recebe 70 mil
visitantes por ano. Tem cinco pousadas e cinco restaurantes. Mas não ganha nada com
isso.
Enquanto a privatização não acontece, os montanhistas estão buscando ajuda das
empresas para preservar as principais vias de escalada do país. O programa, criado
pela Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, já conseguiu que escaladores
adotassem 41 montanhas famosas, como a Pedra do Baú, no interior de São Paulo, e o
Pico do Jaraguá, na capital, além dos cumes da Serra dos Órgãos e de Itatiaia. Eles
entram com doações mensais de R$ 500 a R$ 2 mil para conservar os cartões-postais,
que costumavam ser vítimas de lixo, incêndios e pichações. (Época, 10/10)