Venezuela quer comprar reator nuclear da Argentina
2005-10-11
A Venezuela comunicou à Argentina, no início desta semana, que quer compara um reator nuclear de média potência para montá-lo na região petrolífera do Orinoco. A questão foi ventilada durante uma reunião entre uma comitiva da empresa estatal de pesquisa e desenvolvimento em petróleo da Venexuela – PDVSA-Intevep – e o pessoal da Rede Tecnológica Argentina (RTA), no final de agosto.
Na ocasião, os argentinos ficaram surpresos, pois embora a Argentina tenha vários pedidos internacionais e já tenha vendido ao exterior um reator de pesquisas para a Austrália, a idéia de abastecer a Venezuela presidida por Hugo Chávez, em tecnologia nuclear, foi considerada como algo ultra-sensível.
Na Argentina, existem tanto posições pró-Chávez – presidência, Ministério do Planejamento, parte da Chancelaria – como contra o presidente venezuelano – especialmente nas áreas econômica e em outras do Ministério das Relações Exteriores. Entre os funcionários, há também os que preferem não irritar Washington, embora sob o risco de relegar decisões econômicas soberanas. E há ainda os que desconfiam das intenções de Chávez, hoje em um confronto muito forte com os Estados Unidos.
Em maio deste ano, o mandatário venezuelano manifestou, pela primeira vez em público, que quer iniciar o desenvolvimetno de programas nucleares. Mas, na mesma ocasião, afirmou que poderia pedir ajuda à Argentina, ao Brasil e ao Irã – este último país mantém uma relação de confronto com os Estados Unidos, por causa do relançamento do programa nuclear iraniano. Na ocasião, o Departamento de Estado norte-americano manifestou estar acostumado –às provocações de Chávez – que, por sua vez, repetiu várias vezes suas intenções na área nuclear.
Por outro lado, a simpatia entre o presidente argentino, Néstor Kirchner, e Chávez, gera crescente desgosto em Washington. Os argumentos da Casa Rosada para este vínculo foram sempre o fato de Chávez ter sido eleito democraticamente; que se busca não deixá-lo isolado; e que a Argentina é um fator de contenção para o presidente venezuelano, assim como o Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo um alto funcionário da CasaRosada –o governo argentino vê com muito boa vontade os planos de vender à Venezuela um reator, para uso com finalidades pacíficas–. Porém, este funcionário, que não quis se identificar, disse que as negociações –ainda estão verdes–.
A Embaixada da Venezuela em Buenos Aires não quis comentar o assunto. A reunião entre a Rede Tecnológica Argentina e a PDVSA serviu para a discussão de sete projetos de intercâmbio entre Venezuela e Argentina, para complementação de tecnologias. –Um desses projetos é o do reator CAREM–, admitiu o engenheiro César Belinco, coordenador da RTA, embora o projeto argentino seja de baixa potência, e não de média, como quer a Venezuela.
(Clarín, 9/10)