Os dias em Porto Alegre estão 20% mais nublados e os invernos não são mais tão rigorosos. Essas foram duas das conclusões de pesquisa feita pelo professor do Instituto de Geociências da Ufrgs geólogo Fernando Livi, cujos temas compõem a sua dissertação de mestrado. A temperatura mínima anual também decresceu 1 grau. Para o docente, com o aumento da intensidade do aquecimento global na última década, os fenômenos naturais também estão mais potentes. – Acredito que estão se tornando mais intensos e freqüentes, considerou o geólogo.

O trabalho está respaldado na realidade: de 2003 para cá, o Rio Grande do Sul se deparou com ciclone extratropical (o Catarina), forte estiagem e maior freqüência de tornados e furacões. A freqüência desses fenômenos preocupa e desperta cada vez mais a atenção da população e, como conseqüência, a previsão do tempo ganha espaço na mídia. Em 2000, o tornado que assolou Viamão, na região Metropolitana da Capital, deixou mais de 2,3 mil pessoas desalojadas e 164 feridas. A força das rajadas de vento, que passaram de 100 km/h, pôde ser percebida pelos silos de arroz contorcidos, carros arrastados e residências destruídas. No ano seguinte, em Bom Jesus, o vento ultrapassou os 140 km/h, causando duas mortes. Depois veio a tragédia de Antônio Prado, onde quatro crianças e um adulto morreram quando ensaiavam hinos que apresentariam no Natal. Mas foi a passagem do ciclone Catarina pelo Litoral Norte do Estado, em 2004, que surpreendeu a população gaúcha, atingindo mais de 31,5 mil pessoas. Recentemente, o município de Muitos Capões, atingido por um tornado, teve 70% da área atingida. Estudiosos de tempo e clima argumentam que esses tipos de adversidades naturais sempre ocorreram, mas, em razão da urbanização em massa, agora estão mais visíveis à população.

O meteorologista do 8º Distrito Meteorológico do Instituto Nacional de Meteorologia (8º Disme/Inmet) Solismar Prestes é cauteloso e considera que não é possível afirmar que a causa sejam as alterações climáticas do Planeta. – Não sabemos o quanto disso é causado pela natureza e o quanto é em função da atividade humana-, diz. – A mudança climática não é o que ocorre ano a ano, mas gradativamente-, completa.

O meteorologista Eugênio Hackbart, da Climatologia Urbana de São Leopoldo, concorda e ressalta que os ciclos de tornados, furacões e calor estão se repetindo. – São fenômenos severos que já aconteceram há décadas atrás e se repetirão-, explicou ele. As oscilações do tempo têm sido cada vez mais frequentes nos últimos meses. Na última semana, temporais com queda de granizo em áreas isoladas voltaram a atingir o RS e trouxeram sérios prejuízos a alguns municípios. São Pedro do Sul foi um dos mais prejudicados e obrigou a prefeitura a decretar situação de emergência. Na noite de sexta-feira, Porto Alegre e região Metrpolitana registraram alagamentos. Só em Canoas e Gravataí, mil casas ficaram inundadas. (CP, 09/10)