O anúncio da sSexta-feira (7/10) de que Mohammed El Baradei e a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, sigla em inglês) ganharam o Prêmio Nobel da Paz deve ser visto com prudência. Ainda que El Baradei tenha demonstrado sensatez em oposição à Guerra do Iraque e à proliferação de armas nucleares, a IAEA é responsável também pela disseminação das mesmas tecnologias e materiais usados para a fabricação de armas nucleares, o que é extremamente grave.

No Brasil, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) também possui as duas responsabilidades antagônicas. A própria CNEN reconhece em seu site ser sua missão garantir o uso seguro e pacífico da energia nuclear, desenvolver e disponibilizar tecnologias nuclear e correlatas, visando o bem-estar da população.

— Esperamos que esse Prêmio para a IAEA e El Baradei comece uma nova discussão em torno da contradição fundamental no papel dúbio de órgãos governamentais e intergovernamentais como a CNEN e a IAEA que ao mesmo tempo fiscalizam e promovem a energia nuclear. Apenas depois de removida essa dualidade, esses órgãos poderão realmente se focar nos riscos reais da energia nuclear e na ameaça global de propagação da tecnologia nuclear, tanto civil quanto militar-, afirmou Guilherme Leonardi, coordenador da campanha antinuclear do Greenpeace Brasil. (Greenpeace, 07/10)