Furnas, Eletronorte e FIP Brasil Energia estão na briga por Estreito
2005-10-10
A definição da empresa que ingressará no consórcio responsável pela usina de Estreito (entre os estados do Tocantins e do Maranhão), ocupando a participação da mineradora australiana BHP Billinton, deverá ocorrer dentro de um mês. De acordo com o cronograma estabelecido para a negociação, a previsão é que no dia 4 de novembro a administradora Rio Bravo, contratada para coordenar o processo de reestruturação societária do consórcio, receba dos players habilitados na fase de inicial de seleção as propostas visando à entrada no projeto, que terá capacidade instalada de 1.087 MW. O data room contendo as informações econômico-financeiras e técnicas do empreendimento já foi aberto.
O Agência CanalEnergia apurou que duas estatais ligadas ao governo federal foram habilitadas para a disputa da fatia de 16,48% detida pela Billiton no consórcio: Eletronorte e Furnas. A primeira chegou a ser apontada no início de agosto pelo Ministério de Minas e Energia como o provável braço do Sistema Eletrobrás na nova composição societária do consórcio, após a mineradora ter indicado que sairia do projeto. O ministro Silas Rondeau chegou a discutir pessoalmente essa entrada. A entrada de Furnas na disputa, no entanto, pode atrapalhar os planos da Eletronorte, em função do apetite demonstrado na busca por novos projetos hidrelétricos.
Além de Estreito, a empresa também está no páreo para assumir a participação de 45% do Grupo Rede na usina Luis Eduardo Magalhães (Lajeado), de 902,5 MW de potência instalada. O negócio pode ser a segunda parceria entre Furnas e a Energias do Brasil - holding ligada ao grupo português EDP que detém 27% no consórcio controlador de Lajeado. As empresas já atuam em conjunto na hidrelétrica Peixe Angical, de 452 MW, que começará a gerar energia no primeiro semestre do ano que vem. Oficialmente tanto o Grupo Rede quanto Furnas não se pronunciam sobre a possibilidade de estenderem a parceria de Peixe Angical a Lajeado.
Assim como Eletronorte e Furnas, também está na briga para entrar em Estreito o Fundo de Investimentos em Participação (FIP) Brasil Energia, constituído em janeiro deste ano pelos maiores fundos de pensão do país, como Previ, Petros, Funcef, Real Grandeza, além de BB Investimentos e BNDESPar. Administrado pelo Banco Pactual, o fundo tem orçado R$ 740 milhões para investimentos, montante que pode aumentar para R$ 1,2 bilhão. O coordenador do FIP Brasil Energia, Bruno Constantino, confirma que Estreito é um dos alvos de negócio.
— Estreito está no nosso foco, tem sócios de ótima reputação que conhecem bem o setor - afirma ele.
O Consórcio Estreito Energia (Ceste) - que adquiriu a concessão do projeto em leilão realizado em 2002 - ainda é composto, além da BHP Billinton, por Tractebel Energia e Companhia Vale do Rio Doce, ambas majoritárias com 30%; Alcoa Alumínio, com 19,08%; e Camargo Corrêa Energia, com 4,44%. Pelo acordo de acionistas, os atuais sócios têm preferência para negociar a aquisição da participação acionária, mas não há sinalização de que algum deles tenha esta intenção. Devido à protelação do início das obras nos últimos anos, a construção da hidrelétrica entre os estados do Tocantins e do Maranhão já está orçada em cerca de R$ 3 bilhões.
Segundo um executivo ligado ao processo de reestruração do consórcio, que preferiu não se identificar, os investidores interessados em entrar no negócio têm demonstrado preocupação com os problemas ambientais que cercam a construção da usina. A concessão da licença de instalação pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis está condicionada, segundo ele, ao comprimento de 23 itens sócio-ambientais.
— Estas pendências ambientais precisam ficar muito claras no data room. É necessário saber quais são e quanto custam, para que o investidor saiba com exatidão onde está pisando - observa o executivo. (Canal Energia, 07/10)