Técnicas de Bom Manejo do Fogo reduzem mais de 75% de fogo acidental
2005-10-10
Para minimizar os impactos do fogo acidental na Amazônia, pesquisadores
e técnicos do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)
desenvolvem, há mais de uma década, juntamente com as comunidades rurais, um
programa que visa fomentar o uso de técnicas que reduzam os casos de
acidentes florestais.
— O fogo é de extrema importância, pois, faz o papel
do pacote tecnológico substituindo o trator, o adubo e os defensivos
para os produtores familiares que vivem a margem da sociedade
brasileira-, afirma Ricardo Mello, coordenador do projeto do Ipam. — Essas
pessoas
não têm acesso ao sistema bancário para financiamento, por isso eles
maximizam os fatores de produção que dominam, a terra e a mão de obra,
visto que o capital é escasso, tudo isso precisa ser levado em
consideração-, complementa Mello.
O projeto Bom Manejo do Fogo começou sendo desenvolvido com produtores
da colônia Del Rei, no nordeste do Pará. Eles foram escolhidos por
terem manifestado o interesse em aprender a lidar com o fogo em suas roças,
sem causar incêndios acidentais. — Estamos trabalhando para que os
pequenos produtores se organizem e usem técnicas no controle do fogo durante
as queimadas. Já conseguimos que o percentual de fogo controlado
saltasse de 16% para 70%”-, afirma o pesquisador.
Segundo dados do Ipam, o fogo descontrolado, na Amazônia, é responsável
pela metade das áreas queimadas anualmente. Isto significa que, se num
ano cada uma das 600 mil famílias fizerem uma roça de 2 hectares, uma
área de 1,2 milhões de hectares será queimada intencionalmente, e outra
área do mesmo tamanho será queimada por acidente.
O projeto foi montado para responder a pergunta se era possível e
viável manejar o fogo em produção familiar. A primeira parte foi identificar
quais as técnicas que eram tradicionalmente adotadas e qual a sua
eficiência. Depois, testaram as técnicas em situação de campo, levando-se em
conta cada uma das realidades em que o fogo é empregado como ferramenta
de trabalho. Foram testada a eficiência de um conjunto de técnicas
(para pasto, capoeira e floresta) no qual as variáveis importantes eram
eficiência com o menor custo de mão de obra. Estes estudos deram origem às
técnicas de bom manejo de fogo.
Outros elementos muito importantes, levados em consideração pelo grupo
de trabalho, era o motivo que levava as famílias a migrarem para outras
áreas mais distantes onde podem ter acesso à floresta, num processo bem
conhecido de fronteira. A busca por novas áreas acontece quando se
coloca a pastagem nas áreas que eram agriculturáveis. A capoeira, não mais
se forma e não cumpri seu papel de reposição da fertilidade e assim a
roça é colocada em outras terras na mata.
O passo seguinte foi disseminar essas novas técnicas nas comunidades. O
ponto de partida foi à comunidade Del Rei. Foram realizadas reuniões –
semelhantes às utilizadas pelos extencionistas da Emater – até que
chegar à proposta de criação dos Núcleos de Bom Manejo de Fogo, que
partem do pressuposto de que a comunidade deve testar e aprovar o conjunto
de técnicas de queima controlada mais adequado para o seu contexto
produtivo. Depois de escolhido o modelo, é assinado um documento em que
todos se comprometem a cumprir as regras de queima. Para a pesquisadora
Lucimar Souza, uma das coordenadoras do projeto do Ipam, é muito
importante destacar a capacidade de articulação e de mudança que as
comunidades
demonstraram depois de terem esse espaço para dialogar e criarem suas
próprias regras.
Segundo uma avaliação dos resultados do projeto – que atende 1.300
famílias na Amazônia – em dez anos, a quantidade de pessoas que tinha
conhecimento técnico para lidar com o fogo com segurança, na região,
triplicou. Bem como o manejo adequado desses recursos saltou de 16% para 45%
dos produtores das áreas pesquisadas. Lucimar Souza destaca que os
resultado positivos do projeto apareceram mais rapidamente nas comunidades
de população tradicional e onde, de alguma forma, o IBAMA está presente.
Diante desses resultados, o Ipam espera que a parceria com o Grupo de
Trabalho Amazônico (GTA), que tem uma vasta rede de contados, com a
capilaridade necessária para alcançar centenas de comunidades, sirva para
disseminar esse conhecimento gerado em pesquisa para a vida prática de
milhões de pessoas na região. Hoje, o projeto Bom Manejo do Fogo atua em
muitas regiões da Amazônia e desde 2003 contribui com o Ministério do
Meio Ambiente para elaborar uma proposta de reformulação da política
nacional que regulamenta e disciplina o uso do fogo, e sua metodologia é
prioridade para controle do fogo no plano de Controle e Queimadas na
Amazônia elaborado pelo Grupo de Trabalho Interministerial do Governo
Federal, GTI. — Em parceria com o Ibama, o Ipam espera que os resultados
sirvam para auxiliar em ações de campo do órgão, que atua na fiscalização
e controle desse tipo de atividade-, finaliza Mello.
O Ipam está desenvolvendo o I Curso Ferramentas de Bom Manejo de Fogo
Para Áreas de Produção Familiar Rural, o objetivo é capacitar assessores
que trabalham diretamente com produtores familiares sobre como
implementar metodologias e instrumentos de manejo de fogo em comunidades
rurais
da Amazônia, visando o uso racional o fogo produtivo. O curso
acontecerá, em Bragança no Pará. As inscrições deverão ser feitas até 30 de outubro de 2005 através do
preenchimento do formulário à disposição no site www.ipam.org. (Com informações do IPAM)