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2005-10-07
Ativistas entregaram dossiê ao governo comprovando a utilização de soja transgênica nas fábricas da Bunge e Cargill; organização exige que os produtos dessas empresas sejam retirados dos supermercados e que a lei que garante a informação ao consumidor seja cumprida

O Greenpeace denunciou hoje a utilização de soja transgênica na fabricação das duas marcas líderes de óleo de cozinha no Brasil. Cerca de 20 ativistas representando o consumidor brasileiro e empurrando 20 carrinhos de supermercado cheios de latas de óleos Soya, fabricado pela Bunge, e Liza, fabricado pela Cargill, desceram a rampa do Congresso e se posicionaram próximos à entrada da Câmara dos Deputados enquanto a denúncia era entregue aos parlamentares.

O Greenpeace entregou um dossiê de denúncia e uma carta (clique aqui e veja a íntegra) ao Ministério da Justiça e aos deputados Fernando Gabeira (PV-RJ) e João Alfredo (PSOL-CE), da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, reivindicando o cumprimento da lei que determina a rotulagem dos produtos fabricados com matéria-prima transgênica. O material do dossiê traz amostras de soja, documentos e um vídeo (assista aqui) com declarações de caminhoneiros e imagens da realização de testes. As evidências entregues ao governo comprovam que a soja transgênica está sendo usada pela Bunge e pela Cargill na fabricação de diversos produtos, como os óleos Soya, Liza, Primor e Olívia, e que não há qualquer rotulagem dos produtos oferecidos ao consumidor.

— Essa denúncia do Greenpeace é muito séria e procedente, uma vez que o Brasil está respondendo de forma inadequada à Lei de Rotulagem. Todo o mundo diz que é a favor, mas ninguém se mexe para fazer a fiscalização - afirmou o deputado Fernando Gabeira, ao receber o dossiê das mãos de Gabriela Couto, da campanha de engenharia genética do Greenpeace.

— As duas multinacionais usam matéria-prima transgênica, mas os brasileiros não ficam sabendo porque nem a empresa nem o governo estão cumprindo as leis que garantem a informação ao consumidor - disse Gabriela.

O dossiê também foi encaminhado à Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado e aos ministérios de Meio Ambiente, da Saúde e da Agricultura. O Ministério Público Federal e as Comissões de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Agricultura da Câmara dos Deputados e a Associação Nacional de PROCONs receberam cópias do dossiê com as denúncias.

— O Greenpeace demanda que os órgãos governamentais cumpram suas obrigações e a lei. É fundamental que o consumidor seja informado sobre o que está comprando para poder exercer o seu direito de escolha. Isso está garantido pelo Código de Defesa do Consumidor e precisa ser respeitado - declarou Gabriela.

— Quanto aos óleos Soya e Liza, que são transgênicos mas estão sendo vendidos sem o devido rótulo, o Greenpeace exige que sejam retirados das prateleiras dos supermercados, já que estão em situação ilegal.

TESTES - Em julho de 2005, o Greenpeace coletou amostras de soja de diversos caminhões e realizou testes de fita Trait/SDI, que detectam transgênicos. O resultado foi positivo em todas as fábricas investigadas, com exceção da unidade da Bunge em Campo Grande/MS, que fabrica produtos para exportação e é certificada pela empresa SGS. As demais amostras, que apontaram a presença de transgênicos, foram coletadas nas fábricas de processamento de soja da Bunge m Ourinhos/SP e Dourados/MS, e na fábrica da Cargil em Três Lagoas/MS.

— A Bunge tem lugar que aceita e tem lugar que não aceita transgênicos. Em Campo Grande, não aceita transgênicos. Tem que ir pra Dourados - confirmou E.S.J., caminhoneiro que estava descarregando soja transgênica na unidade da Bunge em Ourinhos/SP.

De acordo com o Decreto de Rotulagem 4.680/03, em vigor desde abril de 2004, todos os produtos fabricados com mais de 1% de transgênicos devem trazer essa informação no rótulo. No entanto, as empresas fabricantes de óleo alegam que o processo de fabricação purifica a soja transgênica, e se recusam, assim, a rotular seus produtos.

— O óleo fabricado com soja transgênica tem componentes químicos diferentes do óleo feito com a soja convencional. Ele pode não conter o DNA no produto final, mas mesmo assim tem alterações químicas que o tornam diferente do óleo da soja não transgênica - disse o Prof. Nagib Nassar, geneticista da Universidade de Brasília (UnB).

— A Bunge e a Cargill têm que cumprir a lei. As empresas podem até optar por continuar usando matéria-prima transgênica e rotular seus produtos, mas correm o risco de perder mercado, uma vez que mais de 74% dos brasileiros não querem comer transgênicos - afirmou Gabriela, com base na Pesquisa ISER/ julho 2004.

— O mais coerente é que elas deixem de usar a soja transgênica para fabricar os óleos de cozinha que os brasileiros usam todos os dias, e passem a oferecer o mesmo padrão que têm para o mercado externo.

Atualmente, a Bunge é responsável por 25% de toda a soja esmagada no Brasil e possui duas linhas de produtos: uma não transgênica, voltada para clientes do mercado externo, que exigem controle efetivo para evitar a contaminação. A outra linha, sem qualquer garantia e controle, é vendida no mercado interno.

— Se as empresas podem oferecer produtos sem transgênicos para o mercado externo, também podem fazer isso para os consumidores brasileiros - concluiu Gabriela. (Greenpeace Brasil, 06/10)

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