Crise diplomática da Argentina com a França tem água como pano de fundo
2005-10-07
O embaixador francês Francis Lott declarou ontem (6/10) que não quis ofender o governo nem o povo argentino depois de ter sustentado que o presidente Néstor Kirchner tinha um discurso populista, próprio do ano de 1968 na França. A crise entre os dois países – que tem como pano de fundo o rompimento, pelo lado francês, do contrato na sociedade da empresa de abastecimento Águas Argentinas – teve ontem (6/10) um novo episódio que pode complicar ainda mais o desempenho da empresa fornecedora de água.
Lott foi chamado pela manha à Chancelaria, onde foi recebido por sisudos chefes de gabinetes dos chanceleres argentinos. Eles tinham instruções vindas diretamente da Casa Rosada para mostrar a indignação presidencial. A reunião, que transcorreu em língua espanhola, fez com que Lott reconhecesse seu equívoco. Contudo, numa nota posterior da embaixada francesa, não consta nenhuma desculpa explícita, e somente se esclarece que Lott — não questionou o presidente Kirchner em sua intervenção, nem fustigou a gestão do governo.
Em Paris, o porta-voz francês Jean Baptiste Mattei precisou que as palavras de Lott foram pronunciadas em esfera informal e que a França respeita a soberania argentina. A primeira-dama Cristina Kirchner, porém, replicou publicamente que Lott era um gestor da empresa francesa Suez, que está deixando a sociedade com a Águas Argentinas. Uma fonte da Chancelaria classificou o episódio como um incidente diplomático, embora tenha precisado que buscou deixar claro que — o mal-estar é com o embaixador, e não com a França.
O governo argentino, por sua vez, garantiu que o caso não trará repercussões negativas sobre a garantia do abastecimento de água. – Não tem por que haver nenhum tipo de complicação–, disse ontem (6/10) o ministro do Interior, Aníbal Fernández, retrucando a advertência do secretário-geral da Associação de Obras Sanitárias, José Luis Lingeri, a respeito de que, no verão que se aproxima, possa faltar água.
Fernández foi quem expressou profundo mal-estar pela declarações de Lingeri. Em um seminário sobre Gestão de Água em Áreas Metropolitanas, realizado na quarta-feira (5/10), Lingeri abordou o futuro da concessão da Águas Argentinas. Ele assinalou que os bairros de Buenos Aires que poderiam sofrer os maiores problemas de administração de água neste verão são Lomas Zamora, Berazategui, San Martín e Almirante Brown.
Lingeri não fez mais do que corroborar os argumentos que vêm sendo difundidos por técnicos do setor sanitário, que assinalam que, no próximo verão vão duplicar-se os problemas com a qualidade do serviço por causa da queda dos investimentos que vêm sendo feitos em dutos. — Em 2004/2005 houve baixa pressão e faltou água em duas ou três zonas, como nos casos de Tigre e Lomas de Zamora -, disse há poucos dias um dos especialistas que mais conhece a rede .— Mas neste verão a queda de pressão será maior, e as faltas de água podem se estender a cinco ou seis zonas da concessão, acrescentou. (Fonte: Clarín, 7/10)