Pesquisadores gaúchos analisam Aqüífero Guarani
2005-10-07
Por Patrícia Benvenuti
Dois estudos divulgados esta semana revelam novas informações sobre o Aqüífero Guarani no Rio Grande do Sul. Em Ijuí, município localizado sobre uma parte do Aqüífero, o geólogo Oscar Neto comprovou que a região possui capacidade hidrotermal estimada em uma faixa que varia de 25°C a 35ºC, com poços perfurados na ordem de 800 a 1000 metros de profundidade.
A pesquisa de Neto, da empresa Georepp Hidrogeologia Ambiental, de Porto Alegre, foi realizada a pedido do prefeito de Ijuí, Valdir Heck, que analisa a possibilidade de usar esse potencial hidrogeológico para viabilizar futuros empreendimentos. O geólogo afirma que a preliminar da pesquisa deu-se em aspectos jurídicos, a partir de avaliações das leis vigentes e consulta a órgãos responsáveis. Com base nessas análises legais, projetos podem ser implantados, desde que cada área receba um tratamento adequado a suas características.
Oscar Neto foi cauteloso ao comentar sobre possíveis impactos ambientais. De acordo com ele, isso não pode ser mensurado nessa fase do trabalho. Antes de qualquer cálculo, é necessário avançar nas pesquisas, momento em que será necessário um diálogo com o Departamento Nacional de Produção Mineral, do Ministério de Minas e Energia.
Neto assegurou que tanto seus estudos quanto a empresa primam pela qualidade técnica. – A água, deve ser explorada enquanto recurso que a natureza oferece, e devemos saber o quanto pode suportar sem que cause danos, pois é um bem a ser preservado-, conclui.
Pelo menos 50% do Aqüífero no RS não serve para abastecimento
Outro geólogo gaúcho está contribuindo para desmistificar o Aqüífero Guarani a partir das conclusões de sua tese de doutorado. José Luiz Flores Machado mostrou em seu trabalho que o famoso aqüífero não se trata de uma área contínua, como se acreditava há tempos, mas constituído de várias unidades. Também há diferença na distribuição do recurso nessas áreas e na própria qualidade.
Conforme o pesquisador, pelo menos 50% da área do reservatório no Rio Grande do Sul não serve para abastecimento, irrigação ou indústria, em função do grande volume de sais e outros elementos nocivos. A alta temperatura das águas, porém, serviria para a utilização das mesmas em estações termais, contribuindo para o setor turístico.
A pesquisa também aponta o aqüífero como uma rocha arenosa, que vem filtrando a água da chuva através de seus poros como uma esponja há cerca de 30 mil anos. Cai, assim, a idéia fantasiosa de um imenso lago subterrâneo. A absorção do líquido pela rocha se dá de uma forma lenta, que varia aproximadamente um metro por ano. Dessa forma, pode-se vislumbrar o perigo da utilização do manancial de maneira inescrupulosa e desordenada. – Como a infiltração é lenta, a renovação do manancial também é vagarosa, ou seja, tudo que é retirado do aqüífero leva milhares de anos para ser reposto-, alerta o geólogo.