Mudança climática afeta migrações dos animais, diz estudo
2005-10-07
A mudança climática pode levar à extinção muitos animais, entre eles pássaros migratórios, afirma um novo estudo encomendado pelo governo britânico. O derretimento do gelo, expansão dos desertos e o impacto do aumento da temperatura dos oceanos sobre o sexo das tartarugas são algumas das ameaças à vida no planeta identificadas pelos pesquisadores. O relatório está sendo apresentado num encontro de autoridades de conservação ambiental da União Européia na Escócia.
De acordo com o documento, o aquecimento global já alterou as rotas de migração de alguns pássaros e de outros animais.
O Departamento do Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais (Defra) da Grã-Bretanha encomendou o levantamento, coordenado pelo Fundo Britânico para a Ornitologia.
A reunião, na cidade escocesa de Aviemore, tem como objetivo debater formas de ajudar os animais a se adaptar ao aquecimento global.
Muitas mudanças no padrão de comportamento das espécies já foram observadas. Alguns animais, associados normalmente a países situados mais ao sul, têm sido vistos na Grã-Bretanha. É o caso, por exemplo, das garças, tartarugas-careta e dos salmonetes.
Outros pássaros, como o borrelho grande de coleira, agora passam os invernos no leste da Grã-Bretanha, em vez de seu refúgio habitual na costa oeste. Já as felosas comuns estão passando o ano todo nas ilhas britânicas, ao invés de migrar para o sul.
Embora muitas espécies tenham conseguido se adaptar às novas condições mudando-se para mais perto dos pólos, o estudo adverte que esta não é uma opção possível para outros animais, como os ursos polares e focas, cujo habitat vem desaparecendo devido ao derretimento do gelo no Ártico.
Até mesmo mudanças sutis na temperatura da água do mar podem ter impacto de grandes proporções sobre os animais, com a morte do plâncton que forma a base da cadeia alimentar nos oceanos.
Acredita-se ser esta a razão de uma queda brusca no alimento disponível para aves marinhas da Escócia, já que os peixes dos quais essas espécies dependem para sobreviver se viram subitamente sem o que se alimentar.
Entre outros riscos citados no relatório, estão o impacto do aumento do nível do mar para a reprodução das tartarugas marinhas. Isso porque, por exemplo, cerca de um terço das praias do Caribe usadas pelas tartarugas para o acasalamento devem desaparecer ao longo deste século.
Focas e pássaros que também utilizam regiões costeiras para a procriação também devem sentir os efeitos dos novos tempos.
Com temperaturas mais altas das águas, algumas espécies de tartatugas poderiam passar a ter apenas fêmeas e nenhum macho - a temperatura ajuda a determinar o sexo dos filhotes.
–A mudança do clima já está afetando um amplo leque de espécies migratórias–, diz Humphrey Crick, do Fundo Britânico para a Ornitologia, um dos autores do estudo.
–Há algum espaço para que ajudemos as espécies a se adaptar à mudança climática, mas temos de encontrar soluções globais para ajudar animais que voam, nadam e caminham milhares de quilômetros todos os anos–, conclui. (BBC, 7/10)