Empresários baianos se mobilizam contra transposição do Velho Chico
2005-10-06
O empresariado baiano também se movimenta contra as obras de transposição das águas do Rio São Francisco. Representantes da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Associação Comercial da Bahia (ACB), Federação da Agricultura do Estado da Bahia (Faeb) e Federação do Comércio do Estado da Bahia (Feceb) encaminharam correspondência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrando preocupação com a decisão do governo federal em iniciar o projeto. Eles levam em conta a possibilidade do que chamam de falência do rio da unidade nacional e pedem um debate mais aprofundado sobre a questão.
Um estudo, coordenado pelo Instituto Miguel Calmon (Imic), foi encaminhado pelos empresários, e mostra que o projeto do governo não atinge a população rural dispersa, que continuaria vulnerável às secas. A proposta, segundo eles, além de não beneficiar nem mesmo 10% da população atingida pela estiagem, desconsidera em seu planejamento questões técnicas e ambientais importantes.
A presidente da Associação Comercial da Bahia, Lise Weckerle, lembrou que existem soluções mais econômicas e eficientes, como a construção de cisternas, poços, pequenos açudes, barragens subterrâneas e outras. Ela disse ainda que sociedades civis como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) endossam estas posições, o que torna necessário ampliar e constituir grupos de estudo procurando articular-se com o restante da sociedade civil para equacionar o problema. Weckerle cita que a questão requer uma solução resultante de um pacto federativo, que contemple os interesses da população e apresente custo-benefício que maximize o aproveitamento dos recursos públicos.
Para o presidente da Fieb, Jorge Lins Freire, o assunto está sendo tratado de maneira isolada pelo governo, atropelando todas as discussões sobre o tema.
— A revitalização do rio, que é um ponto crucial, foi esquecida, bem como a possibilidade de integração de bacias - citou. Freire lembra que enquanto o projeto propõe levar a água para localidades distantes, visando retornos econômicos, muitas comunidades ribeirinhas, por exemplo, ainda não contam com abastecimento de água.
Na bacia do Rio São Francisco existem 30 milhões de hectares aptos para a agricultura irrigada, mas a área utilizada atualmente é de 340 mil. Projetos de irrigação, como os do Rio Salitre, de 30 mil hectares, e do Baixio de Irecê, de 60 mil hectares, que podem gerar milhares de empregos, estão com as obras paralisadas, sem indicação no orçamento.
— Não é demais afirmar que a dita transposição do Velho Chico ultrapassa a concordância que deve existir entre a sociedade brasileira, ferindo o pacto federativo, pois, antes da transposição, deve, sim, ser recuperada toda a sua potencialidade, que há muito vem sendo postergada e relegada - diz o comunicado, também assinado pelos presidentes da Federação do Comércio, Carlos Amaral, e da Federação da Agricultura, João Martins da Silva Júnior. Para tanto, segundo o empresariado, deve ser iniciado, imediatamente, o plantio das matas ciliares nas margens do rio, e ainda ser criado um plano de incentivo à agricultura familiar para minorar o sofrimento das populações ribeirinhas. (Correio da Bahia, 06/10)