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2005-10-05
Recente pesquisa do geólogo gaúcho José Luiz Flores Machado revela que no reservatório natural depositado no subsolo brasileiro não há tanta água assim. Utilizar com responsabilidade esse bem indispensável à vida ainda é o mais recomendado.

O Sistema Aqüífero Guarani (SAG) é um extenso reservatório de águas subterrâneas que estendem-se por quatro países: Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil, onde atinge os estados do Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Suas águas preenchem poros e fissuras de rochas denominadas Guarani, batizadas com esse nome pelo geólogo uruguaio Danilo Anton em homenagem aos primeiros habitantes da região no período colonial. Inicialmente o SAG foi denominado de Aqüífero Gigante do Mercosul, por passar nos quatro países participantes do acordo comercial.

As rochas do Guarani constituem um pacote de camadas arenosas que se depositaram na bacia sedimentar do Paraná ao longo do período Mesozóico (entre 200 e 132 milhões de anos). A espessura das camadas varia de 50 a 800 metros em profundidades que podem atingir 1,8 mil metros. A água depositada nesses espaços, cerca de 45 trilhões de metros cúbicos, pode atingir temperaturas elevadas, em geral de 50ºC a 85ºC.

A idéia disseminada há algum tempo é que esse reservatório subterrâneo teria água suficiente para abastecer o mundo inteiro por 2,5 mil anos. A última estiagem direcionou as atenções para o possível aproveitamento deste manancial no Estado. Entretanto, a tese de doutorado apresentada em março último na Unisinos pelo geólogo gaúcho José Luiz Flores Machado mostra que o verdadeiro Aqüífero Guarani é diferente do que foi dito até agora.

Machado descobriu que o famoso aqüífero não é contínuo, é constituído de vários aqüíferos, com quantidades e qualidades diferentes de água em cada um. De acordo com o pesquisador, em pelo menos 50% da área do aqüífero no Estado, especialmente onde há grandes profundidades, a água in natura não serve para o abastecimento público, nem para irrigação ou indústria, em função do grande volume de sais e outros elementos nocivos. A profundidade e a qualidade nem sempre boa tornam muito cara a utilização do SAG para abastecimento. Contudo, o pesquisador sugere que a temperatura elevada das águas mais profundas pode servir ao turismo em estações termais.

O geólogo mapeou e avaliou 181 poços tubulares da Corsan, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Petrobras, Paulipetro e de empresas particulares. Secundariamente, utilizou também imagens de radar, imagens de satélite, fotografias aéreas do Serviço Geográfico do Exército e outras informações. Na pesquisa o Estado foi dividido em quatro blocos, de acordo com a influência de falhas geológicas de grande extensão: Compartimento Oeste, Compartimento Central - Missões, Compartimento Leste e Compartimento Norte - Alto Uruguai. – A primeira conclusão da pesquisa foi que o Sistema Aqüífero Guarani é compartimentado em blocos, sendo que o maior é o do norte. Em cada um há um sistema aqüífero diferente, porque, na verdade, são vários lençóis de água e não um único, como a maioria das pessoas pensa-, explica Machado.

O pesquisador acrescenta ainda que o aqüífero não é como se fosse um lago subterrâneo, é uma rocha arenosa que acumula a água da chuva em seus poros, a grandes profundidades, como uma esponja. Esta água vem se infiltrando há cerca de 30 mil anos e se move no solo muito lentamente, variando pouco, cerca de um metro por ano. Essa característica seria um dos principais perigos se a utilização do SAG para abastecimento não for ordenada e criteriosa. – Como a infiltração é lenta, a renovação do manancial também é vagarosa, ou seja, tudo que é retirado do aqüífero leva milhares de anos para ser reposto-, alerta. (O Informativo, 04/10)

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