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2005-10-05
Extensas partes da floresta tropical amazônica estão passando pelos dias mais secos de que já se teve notícia. Segundo os cientistas, as conseqüências diretas são a temporada de furacões que agora atinge o Golfo do México. As precipitações têm ficado em níveis significativamente abaixo da média neste ano ao longo do Rio Solimões e do Rio Madeira, dois dos maiores afluentes do Amazonas, o que tem causado queda acentuada do nível das águas, em níveis já considerados recordes.

Rios e lagos estão secando, deixando à mostra bancos de areia e tornando difícil a navegação para os barcos. Como muitas cidades são acessíveis apenas por rio naquela região, remédios, alimentos e combustíveis já começam a faltar em diversas comunidades.

– Não há chuva porque a massa de ar está descendente, o que previne a formação de nuvens –, diz Ricardo Dellarosa, da Organização de Proteção ao Amazonas (Sipam), em Manaus. –Há uma queda de pressão no ar porque ele está aumentando de forma intensiva no Atlântico Norte, criando temporais e furacões–, detalha.

Segundo Gilvan Sampaio, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Atlântico Norte está levemente mais aquecido do que o normal, o que leva a mudanças nos sistemas climáticos tropicais para além do norte. Um fator secundário, conforme ele, são as frentes frias que usualmente vêm do Sul do Brasil nesta época do ano, as quais ainda não chegaram. Essas frentes frias vão direto para o oceano, ao invés de dirigirem-se para o norte do Amazonas–, explica.

Mesmo que os níveis dos rios da Amazônia estejam sempre com seu nível mais baixo nesta época do ano, a escala é muito pior do que a usual, a ponto de serem atingidas áreas antes nunca afetadas. –É a pior estiagem dos últimos 60 anos–, afirma Elpidio Gomes da Silva Filho, chefe da Administração das Hidrovias do Oeste do Amazonas. –A travessia do rio Madeira deveria levar seis dias. Agora, leva 15 porque somente pequenos botes podem passar–, explica ele.

A Associação de Municípios do Estado do Amazonas descreve a situação como crítica em cerca de dez distritos, que, juntos, têm uma população de cerca de 300 mil pessoas, numa área de aproximadamente o tamanho da França.

Em cidades como Humaitá, a 400 milhas ao sul de Manaus, pelo rio Madeira, a paisagem mudou drasticamente. –Uma praia nasceu no meio de nossa cidade–, diz José Edmee Brasil, presidente do conselho municipal. –Antes, eu nunca havia visto o rio com menos de 10 metros de profundidade, agora tem apenas dois. É a maior seca da nossa história–, ressalta.

Em Tabatinga, a 600 milhas a oeste de Manaus, na fronteira com a Colômbia, a precipitação é quase 70% menor neste ano. Segundo a estatística do Sipam, divulgada na semana passada, a seca deve continuar em outubro – afetando o sul do Amazonas. (Fonte: The Guardian, 3/10)

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