Crise de energia tornou brasileiro mais consciente
2005-10-04
Se a escalada dos preços do petróleo está levando os consumidores americanos - e até mesmo o presidente George W. Bush, para espanto dos ambientalistas - a se preocuparem agora com a eficiência energética dos eletrodomésticos que têm em casa, os brasileiros já passaram por isso durante a crise de energia elétrica, em 2001. O risco de um colapso no abastecimento e a obrigatoriedade de cortar a conta de luz em 20% fizeram com que os brasileiros se transformassem em um consumidor mais consciente e racional.
O especialista Luiz Paulo Fávero, pesquisador do Programa de Administração de Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA), toma emprestado o termo pedagogia do sofrimento, criado pelo economista Celso Furtado, para explicar as mudanças nos hábitos de consumo.
Segundo ele, as catástrofes - como foram as guerras na Europa e agora os atentados e furacões nos EUA - acordam as pessoas para os problemas e levam ao exercício da cidadania.
Além das guerras, a escassez de recursos naturais nos países europeus explicam porque lá os consumidores são, de forma geral, mais conscientes do que nos Estados Unidos.
No Brasil, o aprendizado de 2001 foi assimilado em grande parte pelos consumidores e pelas empresas, mas ainda há muito chão pela frente. Hoje, a propaganda feita nas lojas pelos fabricantes costuma trazer, por exemplo, informações sobre o consumo de energia. O próprio governo vem adotando medidas para estimular o uso mais racional.
O Conpet - um programa de racionalização do uso de derivados do petróleo e gás do Ministério das Minas e Energia - lançou em agosto selo para os fogões, que informa para o consumidor quais são os produtos que menos utilizam gás.
— Este é um fator que, embora não seja decisivo na aquisição de uma determinada marca, é levado em conta pelo consumidor - afirma Antônio Madaleno, gerente de marketing da multinacional alemã Bosch/Siemens (BSH).
A marca européia, que investe em produtos ambientalmente amigáveis, foi a primeira a adotar, por exemplo, um sistema de refrigeração desenvolvido pelo Greenpeace da Alemanha e que utiliza o gás isobutano.
— A partir deste ano, 100% dos refrigeradores produzidos no Brasil serão ecológicos - disse Madaleno. Hoje, apenas um dos seis modelos de geladeiras de duas portas fabricados pela marca alemã no país usa o sistema do Greenpeace. A empresa também só fabrica lavadoras de roupas com a porta frontal, que utilizam bem menos água que os produtos com porta de abertura superior.
— As pessoas no Brasil ainda não acordaram para este problema. A indústria tem um papel fundamental na conscientização - acredita o economista do Provar. (Valor Online, 03/10)