Produtos orgânicos, uma virada na vida do agricultor
2005-10-03
A chave para que o agronegócio familiar deslanche é a produção se especializar em itens de maior valor, como alimentos orgânicos, frango caipira, por exemplo, cujo preço de mercado é em média 30% maior do que os produtos convencionais. O agricultor familiar Severiano Pereira de Oliveira, de 56 anos, que há 8 produz verduras em três alqueires arrendados com ajuda dos 8 filhos em Ibiúna (SP), é um exemplo concreto dessa receita de sucesso. Ele conta que vive da plantação de verduras há 20 anos, mas chegou a desistir da atividade e até começou a trabalhar como pedreiro.
A virada ocorreu em 1997, quando Oliveira descobriu a possibilidade de plantar produtos orgânicos, cultivados sem veneno e adubos químicos. O resultado pode ser visto na garagem da sua casa: dois tratores de pequeno porte, um caminhão, um carro de passeio e uma caminhonete. Ele conseguiu tudo isso depois que começou a plantar alface, repolho, brócolis, cheiro-verde e coentro orgânicos.
— Tiro entre R$ 1 mil e R$ 1,2 mil por semana, desconto o custo de R$ 600 e divido o que sobra com os meus filhos - diz Oliveira. Semanalmente ele colhe 3 mil pés de alface, 500 maços de brócolis, mil maços de cheiro-verde, mil maços de coentro e mil repolhos.
— Dá para ter lucro, sim - diz Oliveira.
Já o agricultor familiar Miguel Alves de Souza, de 51 anos, que cultiva dois hectares arrendados também em Ibiúna (SP) com tomate e vagem, não desfruta da mesma situação.
— Está dando para empatar, não tenho dívidas.
Com a ajuda da mulher Benedita Aparecida Godinho de Souza, de 47 anos, e da sogra Maria Aparecida Rodrigues Pinto, de 72 anos, ele planta os legumes pelo sistema tradicional. Com isso, a sua remuneração é menor em relação à recebida pelos produtores que não usam agrotóxicos.
Souza sabe que poderia obter uma remuneração melhor se produzisse itens diferenciados.
— Mas não temos assistência técnica. Quem dá orientação é o pessoal da própria loja de insumos.
Com relação ao crédito, ele diz que os recursos oferecidos pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) são difíceis de sair. (O Estado de S. Paulo, 03/10)