Unidade de Cuiabá - Bunge paralisa atividades
2005-10-03
A Bunge Alimentos S/A paralisou as operações industriais de processamento de soja na regional Cuiabá, localizada no Distrito Industrial. De acordo com dados do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Várzea Grande e Cuiabá (Sintia), são 52 desligamentos e mais 25 transferências para outras unidades da esmagadora.
Há mais de três semanas o DIÁRIO insistiu em um contato com a assessoria de imprensa da multinacional e desde então está tentando confirmar a informação. A explicação veio por e-mail, dizendo que a unidade da Bunge em Cuiabá antecipou sua parada para manutenção em função do baixo volume da safra e da demanda. A maioria dos funcionários foi direcionada para outras unidades da Bunge próximas (Dourados e Rondonópolis).
O DIÁRIO pediu mais detalhes por e-mail e tentou várias vezes contato telefônico, mas não houve retorno.
Na unidade de Cuiabá, a explicação é que houve uma parada estratégica, para adequações como, por exemplo, de redução do custo fixo.
Surpreso com as demissões, o presidente do Sintia, Sidney Amorim, também recebeu da gerência regional da Bunge a mesma explicação.
— Parada estratégica da empresa, um corte de custos, por razões de mercado.
Segundo ele, antes do mês de agosto os boatos sobre a paralisação tiveram início, mas a constatação surpreendeu.
— É a primeira vez que isso acontece, e em um período antes do final do ano - exclama Amorim.
Tradicionalmente, as esmagadoras de soja paralisam as atividades no final do ano, durante a entressafra, para manutenção de maquinário, e que ainda assim é algo completamente parcial.
Somente em agosto, segundo Amorim, 50 foram demitidos
Nas rescisões contratuais, o presidente do Sintia, Sidney Amorim, não foi informado por quanto tempo a paralisação será mantida.
— Dos cerca de 130 funcionários da unidade Cuiabá, 50 pessoas permanecem envolvidas nas atividades administrativas. Somente em agosto, 35 funcionários foram demitidos.
O presidente conta que a medida se estendeu ainda para outras cinco unidade no País, incluindo Mato Grosso. Informação não confirmada pela assessoria.
Mesmo lamentando as demissões, Amorim ressalta que a Bunge está mantendo, por um período de 90 dias, assistência médica aos demitidos e contratou uma consultoria para ajudar os ex-funcionários na recolocação do mercado.
— A Bunge oferecia nas suas instalações curso técnico para capacitação de seus funcionários, por isso, há um contingente de mão-de-obra especializada no mercado. Eu não acredito que a unidade feche as portas para centralizar as operações em Rondonópolis, pois há pouco mais de um ano, a multinacional fez investimentos na indústria de Cuiabá.
O DIÁRIO, no e-mail enviado à assessoria da Bunge, pediu esclarecimentos sobre os boatos de centralização das operações em Rondonópolis (210 quilômetros ao Sul de Cuiabá) e a confirmação do números de demitidos. Os boatos davam conta de 200 demissões. Conforme explica a assessoria:
— O número de 200 demissões não procede, assim como a centralização das atividades em Rondonópolis.
No Sul do Estado, a Bunge está construindo a maior refinaria de óleo da empresa na América Latina, com investimento de US$ 90 milhões.
As estratégias de mercado, como explica a multinacional, podem ser conseqüência da pressão cambial sobre as commodities, que estão cotadas a uma taxa de câmbio que desfavorece as exportações, atualmente abaixo de R$ 2,30.
De acordo com dados do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Fiemt), o preço médio para cada quilo de farelo de soja exportado é de US$ 0,20, no acumulado de janeiro a agosto, contra US$ 0,24, no mesmo período do ano passado. A mesma perda em cifras, US$ 0,04, está registrada para o quilo do grão, que era US$ 0,28 e está em US$ 0,24.
O óleo de soja apresenta ainda a maior perda para cada quilo negociado (pelo CIN a comparação é em quilogramas). No acumulado de 2005, o preço médio é de US$ 0,47, contra US$ 0,54 no mesmo período do ano passado. Neste produto as perdas somam US$ 0,07. Vale mostrar que nestes oito meses foram exportados de Mato Grosso 540,73 mil toneladas (t) de óleo e 2,57 milhões/t de farelo de soja.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Várzea Grande e Cuiabá (Sintia), Sidney Amorim, há cerca de dez anos à frente da entidade, conta que nos últimos anos, quando a atividade não sofria interferências negativas do mercado – como agora – os funcionários contabilizavam participação nos resultados finais das esmagadoras, inclusive da mato-grossense Amaggi.
Ele conta que o valor adicional recebido por cada funcionário equivalia ao rendimento mensal, cifras que receberam nome de 14º salário. Atualmente, um trabalhador deste segmento tem piso de cerca de R$ 400, variando para cima, conforme a política de cargos e salários de cada empresa.
Amorim lembra que os últimos dois anos, pelo menos, haviam sido tão bons que praticamente não havia este intervalo para manutenção, em função dos grandes estoques que as multinacionais detinham.
— O trabalho se estendia por praticamente todo o ano. E quando há intervalos para manutenção não costuma haver demissão do quadro funcional - completa. (Diário de Cuiabá, 01/10)