Relevo do nordeste gaúcho atrai construção de hidrelétricas
2005-10-03
Em canteiros de obras encravados em vales do acidentado relevo do nordeste gaúcho,
milhares de operários começam a transformar a paisagem. Trabalhadores apertam
parafusos, conduzem máquinas, abrem túneis: erguem pequenas centrais e usinas
hidrelétricas. Eles acabam por construir um novo título para a região.
O nordeste gaúcho já se destaca como campeão brasileiro na produção de uva e vinho.
Também abriga um conjunto de indústrias que formam o segundo maior centro nacional
metalmecânico, a exemplo do setor moveleiro. Agora, prepara-se para virar, até o fim
da década, um pólo de energia.
Na mais recente leva de investimentos, que começou no fim dos anos 90, a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou o processo de instalação de pelo
menos 28 empreendimentos em municípios da região. Quando todos deixarem as
pranchetas dos engenheiros para ocuparem os cursos dos rios, por volta de 2010, as
usinas terão capacidade para gerar 1.682 megawatts. É o bastante para atender ao
consumo atual de quase meio Rio Grande do Sul. Hoje, oito hidrelétricas estão
funcionando na região.
Cinco usinas, uma delas inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em
janeiro, vão se incumbir da geração de quatro em cada cinco megawatts da nova
energia. Em razão dessa concentração, estão recebendo investimento proporcional ao
tamanho de suas barragens de contenção, que chegam a até 185 metros de altura, caso
de Barra Grande, no Rio Pelotas.
A Secretaria de Energia, Minas e Comunicações estima que os investimentos atingirão
US$ 855,5 milhões. Segundo o secretário estadual de Energia, Valdir Andres, com os
projetos previstos no nordeste gaúcho e em outras regiões, o Rio Grande do Sul vai
assegurar a auto-suficiência em energia até 2009. Neste ano, os gaúchos vão importar
40% da luz consumida.
– As usinas contribuem para trazer divisas ao Estado e gerar emprego-, diz.
Apesar de os empreendedores oferecerem uma série de compensações, ambientalistas e o
Movimento dos Atingidos pelas Barragens reclamam da destruição de milhares de
hectares de Mata Atlântica para formar os reservatórios e a extinção de espécies de
plantas e animais.
O impacto ambiental chega a ameaçar a consolidação da usina Pai Querê, em Bom Jesus,
que busca o licenciamento para iniciar a construção. Tanto o Ministério do Meio
Ambiente quanto a Secretaria Estadual de Meio Ambiente já se manifestaram contra a
barragem. (ZH, 02/10)